sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Quando eu tinha 17 anos, li uma frase que era algo assim: “Se você viver cada dia como se fosse o último, um dia ele realmente será o último.” Aquilo me impressionou, e desde então, nos últimos 33 anos, eu olho para mim mesmo no espelho toda manhã e pergunto: “Se hoje fosse o meu último dia, eu gostaria de fazer o que farei hoje?” E se a resposta é “não” por muitos dias seguidos, sei que preciso mudar alguma coisa. Lembrar que estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encontrei para me ajudar a tomar grandes decisões. Porque quase tudo — expectativas externas, orgulho, medo de passar vergonha ou falhar — caem diante da morte, deixando apenas o que é apenas importante. Não há razão para não seguir o seu coração. Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder.
Steve Jobs.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

“I think when it’s all over it just comes back as flashes, you know? It’s like a kaleidoscope of memories, and it just all comes back, but he never does. I think a part of me knew the second I saw him this would happen, it’s not really anything he said, or anything he did, it was the feeling that came along with it - and the crazy thing is, is I don’t know if I’m ever gonna feel that way again - but I don’t know if I should. His world moved too fast and burned too bright - but I just thought, “How can the devil be pulling you towards someone who looks so much like an angel when he smiles at you?” Maybe he knew that when he saw me. I guess I just lost my balance. I think that the worst part of it all wasn’t losing him, it was losing me.
— I knew you were trouble, Taylor Swift.

domingo, 23 de dezembro de 2012

A morte, por si só, é uma piada pronta.
Morrer é ridículo.
Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório, colocar gasolina no carro e no meio da tarde morre. Como assim?
E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente?
Não sei de onde tiraram esta ideia: MORRER!!!
A troco? Você passou mais de 10 anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que não serviriam pra nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente. Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego, mas não desistiu. Passou madrugadas sem dormir para estudar pro vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida, mas era hora de decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em frente...
De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway, numa artéria entupida, num disparo feito por um delinquente que gostou do seu tênis.
Qual é?
Morrer é um chiste.
Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida.
Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas.
Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira.
Logo você, que sempre dizia: das minhas coisas cuido eu.
Que pegadinha macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer.
Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas e mulheres magras e morre num sábado de manhã.
Isso é para ser levado a sério? Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem-vindo. Já não há mesmo muito a fazer, o corpo não acompanha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas.
Ok, hora de descansar em paz.
Mas antes de viver tudo? Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas. Morrer é um exagero.
E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas. Só que esta não tem graça.
Por isso viva tudo que há para viver.
Não se apegue as coisas pequenas e inúteis da vida. Perdoe... Sempre!
Pedro Bial.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Homossexualismo.

Bang! Bang! Splash.
As armas chocaram-se ao chão e o coração de John estava em suas mãos.
A história nunca mudará.
O ventre postiço de um homem continuaria postiço, até que provassem ao contrário ou o preconceito cessasse. Seria impossível que a vida pudesse prevalecer diante de tanto sofrimento exercido pela comunidade, a aflição de não poder mudar o mundo ou de não poder ser igual a todos ao seu redor.

— S-Stefan... — O homem de nome pronunciado desabou sobre o corpo do que o chamava e ele pode ver que o mesmo o ouvia. — Se você realmente me ama, não chore. Lembre-se de nossas noites vazias no qual apenas nossas mãos estavam unidas nesse meio de escuridão; dos momentos no qual rimos e choramos juntos; daqueles em que eu pude me lambuzar de sua felicidade e gargalhar por suas palhaçadas. Lembre-se desse sorriso envergonhado que te fazia corar. — Apontou para o sorriso fraco que mostrava um bom pedaço de dente sugado pelo sangue e pode-se ouvir os sussurros baixos e apreensivos de seu acompanhante com poucos ferimentos. — Ainda pode me ouvir? Stefan? — Era tão bom ouvir seu nome saindo dos lábios, antes belos e carnudos, daquele ser intacto e em contato com o chão úmido. O amor o preenchia de tal forma que não conseguia parar de chorar. Os olhos de John levantaram um pouco, com dificuldade, até encontrar os de Stefan e observar que ele ainda ouvia. — Diga-me que me ama e poderei partir em paz. Diga que não estarei sozinho e eu direi o mesmo para você. Diga o que eu posso ouvir. Diga o que é preciso sentir quando se ama e é diferente. Diga que você me teve com o orgulho e eu te direi que seus beijos calorosos, seus abraços acolhedores e suas noites ao meu lado foram muito mais que o orgulho de te ter comigo...

John não conseguiu mais falar, suas palavras soavam mudas ao ouvido de Stefan.

— Eu te amo, John. Minha vida está incompleta mesmo quando te vejo partindo. Orarei e pedirei aos céus para servirem-te uma mesa de café-da-manhã que possa lhe satisfazer. — Antes que John pudesse pronunciar uma se quer palavra, Stefan colocou um dedo sobre os lábios do homem, pedindo o descanso da voz do mesmo. — Com passas. Prometo-te e afirmo tudo o que me pediu e perguntou. Afirmo muito mais e acredito que sem você minha vida não será nada. Nada. Um vazio completo e sem o amor. —Pegou a mão direita de John e entrelaçou à sua, elevando-as ao coração. — Sente meus coração batendo fraco e forte ao mesmo tempo? — John assentiu — O fraco demonstra a parte de mim que morre hoje, aquela na qual os seus sentimentos estavam nele e o fazia explodir. Quando partir, essa parte partirá ao meio e será apenas um órgão esquisito e incompleto. A outra parte que ainda bate é aquela onde ainda está a esperança de te ter ao meu lado, em qualquer circunstância. Essa nunca parará.

John deu um sorriso de lado, frágil e apetitoso. Stefan ligou seus lábios ao do parceiro que partia, dando um selo cauteloso e de fechamento. Deixando sua saliva guardada em alguma parte do ser gélido e, agora, sem vida.

— Você será ardente que aparecerá em minha janela em todo amanhecer, o vento frio que baterá em minha face e a lua cheia que brilhará todos os dias em meu céu estrelado. E quando eu não ver a chuva ou a lua, verei que você é apenas a estrela mais brilhante do céu. Aquela que nunca me abandona. Delicada e pequena, mas a única que sempre resta no céu de cor arco-íris.

Stefan sorriu e uma lágrima pode ser solta de seus olhos grandes e cor de amêndoa.
“Saiba, meu filho, que as últimas lágrimas nunca saram. Chorarás em todos os dias, pois é assim que John estará contigo. Entre as folhas que renovam-se no outono, o orvalho imposto no inverno, a chuva fina da primavera e o suor pleno de um dia de verão.”
Incognição.
Apaixone-se por alguém que te curte, que te espere, que te compreenda mesmo na loucura; por alguém que te ajude, que te guie, que seja teu apoio, tua esperança. Apaixone-se por alguém que volte para conversar com você depois de uma briga, depois do desencontro, por alguém que caminhe junto a ti, que seja teu companheiro. Apaixone-se por alguém que sente sua falta e que queira estar com você. Não apaixone-se apenas por um corpo ou por um rosto; ou pela ideia de estar apaixonado.
Desconhecido.
Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silencio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar. Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.
Cora Coralina.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Depois de meses, eu me pego sentindo sua falta. Tenho pensado muito em você esses dias e não tenho certeza se estou com saudades ou sem algo melhor pra me ocupar os pensamentos. Como era bom o que a gente tinha. E eu queria ser telepata só pra saber se você pensa em mim, de vez em quando, lembra da gente também. Se foi tudo isso pra nós dois ou eu colori demais. E eu odeio essa tendência das histórias à virarem um nada. Eu odeio a transformação brusca da presença intensa em total ausência, sem que se tenha tempo de protestar ou período de adaptação. Acho injusto o amor ser finalizado e levar com ele, de pirraça, os espaços pra qualquer outro tipo de relação. Conhecer uma pessoa incrível tão de perto e ver ela virando um estranho, tão de longe. Pensei, repensei, lutei muito pra não te mandar uma mensagem, singela, realmente sem segundas intenções. Relutei, porque pode parecer, pra muita gente, uma tentativa patética de reconciliação, minhas amigas desaprovam e porque, pior, pode parecer isso pra você também. Mas você sabe que pensar ou não pensar não adianta muito, porque não costumo deixar passar vontade e você me conhece bem. Então, queria te dizer que virei a noite lendo um livro e o personagem principal me lembra tanto você, é incrível. Ele é você e me faz ter tanta saudade de tudo. Mas isso já não é da sua conta, enfim. Saudade não é vontade de tentar de novo e eu tô só dando um oi, que é pra você não sumir assim. Pra vê se lembra o que um amigo faz e, de vez em quando, vem contar a vida pra mim. Um oi, você sabe, só pra lembrar que eu tô aqui. Amigos, não era isso?
Marcella Fernanda.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Carta.

Eu gosto do seu sorriso e gosto de suas manias fúteis de morder os lábios. Seus olhos me parecem mutantes. Com o tom do verde eu enxergo cada canto da floresta e sinto cada cheiro das folhas secas deslizando sobre meus pés; com o tom azulado enxergo cada onda do mar e ouço o gaguejar das mesmas batendo sobre meus pés; com o tom das nozes sinto os meus pés nuns tocando cada pedaço da terra molhada. Sua mania de manter o anel negro sobre o dedo anelar, teimando um compromisso sério consigo mesma. Comigo.
Peço, por favor, que pare de chorar e que pare com o drama imposto em sua vida. Imploro que cesse com os pecados impostos e seja uma menina "direita" – se é que esse adjetivo possa ser empregado. Enxergue o futuro e preveja o passado, da mesma forma estranha que consegue arquear a raiva. Pare com o mau-humor ao amanhecer no qual o sol nasce sorrindo para você. Continue sendo sincera, mas segure a língua por certos fatos. Pare com seu escândalo mudo e passe a enrugar a face com um belo sorriso estampado no rosto. Continue a ser alegre e nunca se preocupe com seus micos. Erga sua voz quando pedirem sua opinião, não quando falarem com o mudo. Continue com o brilho de seus olhos e dê mais valor à si própria. Jogue sua vida sobre papéis e canetas; sobre teclados e programas de computador. Expresse sua opinião e mostre quem você realmente é, pare de chorar por pouco e dê mais valor a quem você tem por perto. Não core suas bochechas por pouco, tenha orgulho do que dizem sobre você e crie coragem para dizer o que sente ao público. Não tenha vergonha de você mesma. As pessoas te amam como você é.  Abrace um amigo, beije um conhecido. Sorria. Sorria. Sorria.
Todas as noites que se sentir sozinha... Cante e toque seu violão cor de vinho que brilha sobre o tom areia dos cantos. Solte a garra sobre os mesmos dedos doloridos e pouco vividos. Pare de bobeira. Cresça e grite. Seja livre passarinha!
Incognição.

sábado, 17 de novembro de 2012

Talvez seja tão simples, tolo e natural que você nunca tenha parado para pensar: aprenda a fazer bonito o seu amor. Ou fazer o seu amor ser ou ficar bonito. Aprenda, apenas, a tão difícil arte de amar bonito. Gostar é tão fácil que ninguém aceita aprender.

Tenho visto muito amor por aí, Amores mesmo, bravios, gigantescos, descomunais, profundos, sinceros, cheios de entrega, doação e dádiva,mas esbarram na dificuldade de se tornar bonito. Apenas isso: bonitos,belos ou embelezados, tratados com carinho, cuidado e atenção. Amores levados com arte e ternura de mãos jardineiras.

Aí esses amores que são verdadeiros, eternos e descomunais de repente se percebeu ameaçados apenas e tão somente porque não sabem ser bonitos: cobram; exigem; rotinizam; descuidam; reclamam; deixam de compreender;necessitam mais do que oferecem; precisam mais do que atendem; enchem-se de razões. Sim, de razões. Ter razão é o maior perigo no amor. Quem tem razão sempre se sente no direito (e o tem) de reivindicar, de exigir justiça, equidade, equiparação, sem atinar que o que está sem razão talvez passe por um momento de sua vida no qual não possa ter razão. Nem queira. Ter razão é um perigo: em geral enfeia o amor, pois é invocado com justiça mas na hora errada. Amar bonito é saber a hora de ter razão.

Ponha a mão na consciência. Você tem certeza que está fazendo o seu amor bonito?
De que está tirando do gesto, da ação, da reação, do olhar, da saudade, da alegria do encontro, da dor do desencontro, a maior beleza possível? Talvez não. Cheio ou cheia de razões, você espera do amor apenas aquilo que é exigido por suas partes necessitadas, quando talvez dele devesse pouco esperar, para valorizar melhor tudo de bom que de vez em quando ele pode trazer. Quem espera mais do que isso sofre, e sofrendo deixa de amar bonito. Sofrendo, deixa de ser alegre, igual criança.E sem soltar a criança, nenhum amor é bonito.

Não tema o romantismo. Derrube as cercas da opinião alheia. Faça coroas de margaridas e enfeite a cabeça de quem você ama. Saia cantando e olhe alegre. Recomendam-se: encabulamentos; ser pego em flagrante gostando; não se cansar de olhar, e olhar; não atrapalhar a convivência com teorizações; adiar sempre, se possível com beijos, “aquela conversa importante que precisamos ter”, arquivar se possível, as reclamações pela pouca atenção recebida. Para quem ama toda atenção é sempre pouca. Quem ama feio não sabe que pouca atenção pode ser toda atenção possível.Quem ama bonito não gasta o tempo dessa atenção cobrando a que deixou de ter.

Não teorize sobre o amor (deixe isso para nós, pobres escritores que vemos a vida como criança de nariz encostado na vitrine, cheia de brinquedos dos nossos sonhos) :não teorize sobre o amor, ame. Siga o destino dos sentimentos aqui e agora.

Não tenha medo exatamente de tudo o que você teme, como: a sinceridade; não dar certo; depois vir a sofrer (sofrerá de qualquer jeito); abrir o coração;contar a verdade do tamanho do amor que sente. Jogue pro alto todas as jogadas, estratagemas, golpes, espertezas, atitudes sabidamente eficazes (não é sábio ser sabido): seja apenas você no auge de sua emoção e carência, exatamente aquele você que a vida impede de ser. Seja você cantando desafinado, mas todas as manhãs. Falando besteiras, mas criando sempre. Gaguejando flores. Sentindo o coração bater como no tempo do Natal infantil. Revivendo os carinhos que instruiu em criança. Sem medo de dizer, eu quero, eu gosto, eu estou com vontade.

Talvez aí você consiga fazer o seu amor bonito, ou fazer bonito o seu amor,ou bonita fazendo seu amor, ou amar fazendo o seu amor bonito(a ordem das frases não altera o produto), sempre que ele seja a mais verdadeira expressão de tudo o que você é e nunca, deixaram, conseguiu, soube, pôde, foi possível, ser.

Se o amor existe, seu conteúdo já é manifesto. Não se preocupe mais com ele e suas definições. Cuide agora da forma. Cuide da voz. Cuide da fala. Cuide do cuidado. Cuide do carinho. Cuide de você. Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar do amor e só assim poder começar a tentar fazer o outro feliz.
Artur da Távola.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Temos a mania de achar que amor é algo que se busca. Buscamos o amor nos bares, buscamos o amor na internet, buscamos o amor na parada de ônibus. Como num jogo de esconde-esconde, procuramos pelo amor que está oculto dentro das boates, nas salas de aula, nas plateias dos teatros.
Ele certamente está por ali, você quase pode sentir seu cheiro, precisa apenas descobri-lo e agarrá-lo o mais rápido possível, pois só o amor constrói, só o amor salva, só o amor traz felicidade. Há quem acredite que amor é medicamento. Pelo contrário.
Se você está; deprimido, histérico ou ansioso demais, o amor não se aproxima, e, caso o faça, vai frustrar sua expectativa, porque o amor quer ser recebido com saúde e leveza, ele não suporta a ideia de ser ingerido de quatro em quatro horas, como um antibiótico para combater as bactérias da solidão e da falta de auto-estima.
Você já ouviu muitas vezes alguém dizer: “Quando eu menos esperava, quando eu havia desistido de procurar, o amor apareceu”. Claro, o amor não é bobo, quer ser bem tratado, por isso escolhe as pessoas que ,antes de tudo, tratam bem de si mesmas.
O amor, ao contrário do que se pensa, não tem de vir antes de tudo. Antes de estabilizar a carreira profissional, antes de fazer amigos, de viajar pelo mundo, de curtir a vida. Ele não é uma garantia de que, a partir de seu surgimento, tudo o mais dará certo. Queremos o amor como pré-requisito para o sucesso nos outros setores, quando, na verdade, o amor espera primeiro você ser feliz para só então surgir, sem máscara e sem fantasia.
É esta a condição. É pegar ou largar. Para quem acha que isso é chantagem, arrisco-me a sair em defesa do amor: Ser feliz é uma exigência razoável, e não é tarefa tão complicada.
Felizes são aqueles que aprendem a administrar seus conflitos, que aceitam suas oscilações de humor, que dão o melhor de si e não se auto-flagelam por causa dos erros que cometem.
Felicidade é serenidade. Não tem nada a ver com piscinas, carros e muito menos com príncipes (ou princesas) encantados (as).
O amor é o prêmio para quem relaxa. As pessoas ficam procurando o amor como solução para todos os seus problemas quando, na realidade, o amor é a recompensa por você ter resolvido os seus problemas.
Martha Medeiros.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Eu sei, mas não devia.

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração. A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.
— Marina Colasanti.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Metade.

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca...
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.
Oswaldo Montenegro.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Quer saber o que mais dói? Ter que te aceitar longe de mim e pior ainda, ter que aceitar você com outras. Ter que presenciar isso e ficar calada, como se eu estivesse curada e pouco me importando. O pior mesmo é te amar e ter que deixar esse amor tão puro e sincero guardado, bem lá no fundo, dentro de mim.
Autor desconhecido por mim.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Não sou insensível à idéia de que o homem deve buscar algum tipo de fé, basicamente, sou a favor de qualquer coisa que faça você dormir à noite, seja uma prece, tranquilizantes ou uma garrafa de Jack Daniel's.
Frank Sinatra.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião.
Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.

Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias.
Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.

Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir.
Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso.
E com confiança no que diz.

Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação.
Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer ou ter coragem pra fazer.

Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado.
Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende.
E é assim que perdemos pessoas especiais.

Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar.
Difícil é mentir para o nosso coração.

Fácil é ver o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto.
Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.

Fácil é dizer "oi" ou "como vai?"
Difícil é dizer "adeus", principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...

Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida. Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.

Fácil é querer ser amado.
Difícil é amar completamente só.
Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar, e aprender a dar valor somente a quem te ama.

Fácil é ouvir a música que toca.
Difícil é ouvir a sua consciência, acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.

Fácil é ditar regras.
Difícil é segui-las.
Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.

Fácil é perguntar o que deseja saber.
Difícil é estar preparado para escutar esta resposta ou querer entender a resposta.

Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade.
Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.

Fácil é dar um beijo.
Difícil é entregar a alma, sinceramente, por inteiro.

Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.
Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.

Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica.
Difícil é ocupar o coração de alguém, saber que se é realmente amado.

Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho.

Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata."
Carlos Drummond de Andrade.

sábado, 25 de agosto de 2012

Não chega desse jeito não. Me ligando, me fazendo rir, fazendo de tudo pra me ver. Não chega assim não, fazendo questão de mim, fazendo acontecer. Não vem cheio de atitude, me mostrando, logo de cara, que eu nunca tinha conhecido um homem antes. Não me conta suas histórias, sua vida doida, suas aventuras pelo mundo, que o meu mundo é do portão pra dentro. Não me invade. Não diz todas essas coisas que você sabe fazer e faz tão bem, para de falar sem pausa e me deixar boba te ouvindo. Faz assim, não sorri também. Tem sorriso que acaba comigo e o seu é nocaute. Não corta as minhas paranoias, não acaba com as dúvidas se eu devo mandar sms, se eu devo ligar, porque você já faz tudo isso e quando não, me pede um sinal de vida. Não me surpreende, não me encanta. É pedir demais? Não sai da mesmisse de todos os outros, não faz melhor ou tão melhor. Não me desarma, não estraga meus clichês. Não fica fazendo tudo certo, sem eu nem pedir. Não me acostuma mal, ou melhor, não me acostuma. Olha, fica aí quietinho, que só em existir você já me bagunça toda. Você só me faz o favor de piorar, da maneira mais incrível possível, aí fica tudo revirado e depois ninguém fica pra arrumar, sobra pra mim, sempre. Sobra mais um fim. Não se mexe!
Marcella Fernanda.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

‎"Sim, sim, música eletrônica é demais, celebrar a vida com os amigos é genial, pular bem alto é sensacional. Mas será que a gente não pode colocar um Cartola bem baixinho na vitrola e dançar sozinhos no escuro, só hoje?"
Tati Bernardi

terça-feira, 31 de julho de 2012

— Só sei que nós nos amamos muito…
 Por que você está usando o verbo no presente? você ainda me ama?
— Não, eu falei no passado!
 Curioso né? é a mesma conjugação.
 Que língua doida! quer dizer que nós estamos condenados a amar para sempre?
— E não é o que acontece? digo, nosso amor nunca acaba, o que acaba são as relações…
— Pensar assim me assusta.
— Por quê? você acha isso ruim?
— É que nessas coisas de amor eu sempre dôo demais…
— Você usou o verbo "doer" ou "doar"?
(pausa)
— Pois é, também dá no mesmo…

Caio Fernando Abreu.

terça-feira, 24 de julho de 2012

É proibido.

É proibido chorar sem aprender,
Levantar-se um dia sem saber o que fazer
Ter medo de suas lembranças.

É proibido não rir dos problemas
Não lutar pelo que se quer,
Abandonar tudo por medo,

Não transformar sonhos em realidade.
É proibido não demonstrar amor
Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor.
É proibido deixar os amigos

Não tentar compreender o que viveram juntos
Chamá-los somente quando necessita deles.
É proibido não ser você mesmo diante das pessoas,
Fingir que elas não te importam,

Ser gentil só para que se lembrem de você,
Esquecer aqueles que gostam de você.
É proibido não fazer as coisas por si mesmo,
Não crer em Deus e fazer seu destino,

Ter medo da vida e de seus compromissos,
Não viver cada dia como se fosse um último suspiro.
É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,

Esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos se
desencontraram,
Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente.
É proibido não tentar compreender as pessoas,
Pensar que as vidas deles valem mais que a sua,

Não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte.
É proibido não criar sua história,
Deixar de dar graças a Deus por sua vida,

Não ter um momento para quem necessita de você,
Não compreender que o que a vida te dá, também te tira.
É proibido não buscar a felicidade,

Não viver sua vida com uma atitude positiva,
Não pensar que podemos ser melhores,
Não sentir que sem você este mundo não seria igual.
Pablo Neruda.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Esquecer.


É ruim quando você percebe que falta algo em você e sabe exatamente o que é. Às vezes é mais fácil quando não fazemos ideia do por que.
É incrível como você só percebe o quanto uma pessoa é importante depois que a perde. Você percebe que gosta mais do que já pensou em gostar. Parece ainda mais forte que todas as outras vezes e você ainda tenta lutar para que as coisas continuem bem. É bem péssima essa dor que você não sabe bem de onde vem, é um tanto dolorosa e, ao mesmo tempo, é algo bom.
Eu gostaria de fingir que não me importo e me afastar como das outras vezes que isso já ocorreu, mas dessa vez realmente não dá.
Eu chorei. Chorei que nem um bebê e isso nunca havia acontecido, sendo que eu tinha prometido para eu mesma que isso nunca ocorreria. É difícil entender o nosso coração e nossos sentimentos, mas eu realmente gostaria de entender alguma vez na vida. Talvez dessa vez fosse bom. Os porquês também seriam ótimas coisas para tentar entender.
Quem dera se fosse tão fácil.
É estranho viver com um vazio um pouco maior e sentir esse sentimento de perda, como se uma pessoa tivesse morrido e você sentisse mais falta do que seu próprio pai.
Perder é algo tão melancólico e, pela primeira vez na vida, eu estou realmente sem saber o que fazer. Não sei se arrisco, tento de novo ou se deixo pra lá, sendo apenas uma amiga e fingindo que nada aconteceu, mesmo quando o coração aperta.
É bem ruim quando você gosta muito e a pessoa não gosta nem um pouco. Mesmo que aconteça sempre, dessa vez está pior. Não pela dor, mas pelos sentimentos em si, não gosto da sensação de descobrir que eu gosto de uma pessoa mais do que já gostei de qualquer outra.
“Perder” alguém que te faz feliz, que te fez melhorar mesmo sem perceber e que você acostumou-se com seu jeito. Alguém que te encanta, sem mesmo entender.
Gostar é algo ainda maior, perto do que eu pensava que sabia. Está além de muita coisa. Os defeitos não fazem mais diferença e eu ando deixando todo o orgulho e teimosia de lado. Isso sim é bizarro, eu nunca pensei em fazer isso por ninguém. Eu realmente não ando me entendendo muito e ando ganhando um pouco mais de medos. Admito que estou com um pouco de medo até das minhas próprias atitudes, mas eu sinto que preciso de algo, que ainda falta alguma resposta, mas não sei qual. Se fosse outra pessoa eu tenho certeza que iria continuar na minha, fingindo que não tinha acontecido nada e esperaria que a pessoa corresse atrás de mim e se ela não me procurasse eu iria me afastar ainda mais, até que parecesse que não fazia mais diferença.
Eu não ando me compreendendo. Estou deixando todo o escudo contra outras pessoas de lado, isso é bem esquisito. Eu nunca me permitiria de chorar na frente dos outros, eu prenderia, mas não consigo. Assim como eu nunca soltaria todos os meus sentimentos para alguém, sabendo que é quase certo que eu me ferre no final. Me sinto um pouco babaca, mas não sei bem o que devo fazer.
No fim eu sei que receberei mais uns “eu te avisei”, mas não me incomodo. Na verdade, não ando me incomodando muito com as coisas, apenas algumas. Não me importo mais com o passado e parece que eu só queria viajar no futuro para ver como será, saber o que vai dar.
Cansei de ouvir pessoas dizendo um “deixa pra lá” e responder que eu não quero deixar de lado. Sou teimosa e sei que vai acabar sendo assim mesmo. Dizer “foda-se” para o que pode haver no futuro.
Eu não o entendo muito bem, é bem um mistério, talvez esse seja um dos motivos para eu gostar ainda mais, por mais ridículo que seja. Dizem que quando gostamos muito de alguém, nós não conseguimos entende-los, mas não acho que seja isso.
As pessoas complicam mais do que deveriam,  e digo isso até mesmo no meu caso.
Incognição, apenas um desabafo.

Inspirado no cheiro da sua mão.

Se a gente juntar com a pá migalhas e farelos, o pó e os cacos que sobraram de nós dois, acho que faz um inteiro. Será que não? E aí? Que tal? Vamos? Como soa dividir comigo essa existência idiotamente ridícula, morna, real, estúpida, bagaceira e imbecil? Vamos fazer diferente, como ninguém mais sabe fazer, só nós? Diz que vamos, vai.

Não? É tudo que preciso pra começar a te conquistar. Diz que não com os olhos cheios de esperança. Com duzentos "nãos" eu construo um castelo, uma roda gigante, uma cabaninha de lençol na sala, um altar, um amor, um sim bem grande. Com um sim entre você e eu, te roubo inteira e metade da felicidade do mundo. Diga que não, ponha uma meta no meu colo, tipo num processo de seleção feminina só pra eu provar que sou o cara.

Isso, faz assim. Se faz de labirinto quando eu me oferecer em linha reta. Diz que metade de mim, a parte amigo, tá bom, só pra me empurrar inteiro coração adentro, goela abaixo, com toda a calma do mundo. Isso, faz assim. Dá voltas e voltas e voltas na chave da tua emoção só pra eu me exibir que posso te desarmar, desarrumar sua vida e seus cabelos. Embora eu não te ame ainda, mesmo o amor não existindo, diga não e me encoraje a pôr tudo à prova.

Finge não me querer, disfarce o brilho no olhar, esconda o sorriso atrás dos cabelos, ganhe torcicolo de tanto cuidar o outro lado, mostre o cofrinho se abaixando quando eu passar rasando, fique o tempo todo pensando no jeito infalível de ganhar o Oscar de melhor "tô nem aí". Me ache chato se eu te procurar, me ache o homem da sua vida se eu sumir, me veja feio do teu lado, me veja lindo do lado das outras. Diga trocentas vezes pro espelho na sua bolsa que sou o cara mais idiota, mais engraçado, mais fajuto, mais encantador que você fingiu não gostar.

Perfeito assim. Fosse sem esses enigmas, sem esses rodeios, sem esses movimentos, sem esses contrastes eu a rejeitaria como todas as outras. Vem assim como uma onda que não se congela pra eu pegar, como uma música do Djavan. Mas alerto já que estarei esperando com os pés e o desejo de te ter pra mim descalços, esperando você se desfazer, perder energia e parar na areia, nos meus braços, no meu sofá.

Bolei um plano pra trazer você pra mim, todo inspirado no cheiro da sua mão. É mais ou menos assim: você finge me repelir como fosse eu um ex-presidiário estuprador, bagaceiro e ressentido, e eu chego arrombando sua porta, suas pernas, sua alma. Aí você se dá conta que para voar é preciso tirar o peso dos ombros, se desanda, e diz pra mim, no ouvido, com um fio de voz e outro de esperança de que seja tudo real, que isso é o maior erro do ano, que não imaginava existir tanta culpa no céu, que as pessoas ficaram mais bacanas depois que encasquetei em te querer. Tudo sorrindo mais do que seu rosto aguenta.

E devolvo, puxando com os dentes seu lóbulo, que nossa história foi escrita torta de propósito pra gente se cruzar, tudo enquanto eu babo sobre teus encantos, enquanto eu faço o sexo mais manso e mais intenso e mais irreversível e mais gostoso e mais carinhoso e mais sem camisinha e mais duradouro da sua vida, tanto que você perde seus orgasmos por birra, contrai a pélvis pra eu não gozar de pirraça, de tanta vontade de nunca mais me deixar sair de onde eu nunca deveria ter entrado.

Depois, com pequenos beijinhos e mordiscadas virando e desvirando seu corpo, virando e revirando seus olhos, convenço que os maiores amores se acertam nos erros, quando a loucura e a entrega vencem a resistência e o medo de alguma forma. Começo num beijo no canto da boca, aqueles que cabe a você decidir se acaba, ou prossegue, tá? Então, vamos? Pega na minha mão, entra no meu carro, sobe na minha garupa. Te mostro o quanto dá pra amar no caminho.
Gabito Nunes.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

‎"Se você estiver ocupado demais para me ligar, eu vou entender. Se você não tiver tempo para me mandar mensagens, eu vou entender. Se você tiver fazendo algo mais importante e não puder me ver, eu vou entender. Se você fingir que não está nem ai pros meus sentimentos e continuar me ignorando, eu vou entender. Se você continuar desperdiçando seu tempo de vida com coisas fúteis, eu vou entender. Mas se eu parar de te procurar, aí é a sua vez de me entender."
Tati Bernardi.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

‎"Vai, se você precisa ir. Não quero mais brigar esta noite. Nossas acusações infantis e palavras mordazes que machucam tanto não vão levar a nada, como sempre. Vai, clareia um pouco a cabeça, já que você não quer conversar. Já brigamos tanto, mas não vale a pena. Vou ficar aqui, com um bom livro ou com a TV, sei que existe alguma coisa incomodando você. Meu amor, cuidado na estrada e, quando você voltar, tranque o portão, feche as janelas, apague a luz e saiba que te amo..."

domingo, 10 de junho de 2012

"Mudanças nem sempre são fáceis, você se acostuma com manias, vícios e todo o resto que faz parte, você aprende a lidar com uma outra forma de pensar e viver e acredita que pode segurar a onda dessa forma.
As vezes dá certo, as vezes não. E quando não dá, um amigo diz que te avisou, o outro simplesmente não diz nada e aí você tenta explicar que também sabia, mas alguma coisa te fazia persistir em um engano que pra você fazia um pouco de sentido, mas só pra você. As vezes parece o fim de tudo, as vezes foi só um caminho errado que te levou pra um lugar merecido. Um caminho onde você encontrou outras manias e outros vícios, só que dessa vez muito mais interessantes e compatíveis, doces, amáveis e respeitáveis não só pra você, mas pro seu amigo que te avisou e o que não disse nada. Talvez nem tudo tenha sido feito pra acabar com você da forma mais ordinária possível como você pensava, olha o meu caso agora."
Não tenho certeza sobre o(a) autor(a).

Pequena menina.

Pareciam apenas traços de mais uma pessoa qualquer na qual faria diferença na sua vida, tornaria seus pensamentos uma ilusão e, logo, quando estava perfeito, tudo poderia desmoronar fazendo com que a menina dos cabelos cheios de química pudesse sentir novamente toda aquela dor na qual já havia se acostumado a sentir – tudo acabando, uma amizade criada apenas em seu consciente. Porém, não havia sido assim. Não sei como poderia descrever tal feito, mas dizia-se que era um milagre caracterizado por muitas hipérboles.
Aos poucos foram criando-se laços e percebendo as características que existiam entre ambas. Era estranho o quão parecidas eram, retirando as tantas diferenças.
Criaram planos demais, tiveram conversas onde descobriram o que passava-se na cabeça de tantas elas, decidiram que mudariam aquele mundo com tão pouco e desvendariam as várias perguntas sem respostas – soltas ao vento, que soprava sem rumos concretos. Divertiam-se sem se preocupar, até decidirem que iriam desistir de tudo aquilo que não possuía motivos para ser feito, ao que pouco lhes restava e às afogava nas próprias mágoas. Tornaram aquelas vidas como uma só. Uma irmandade meio desligada, mas um tanto forte e em tão pouco tempo. O eterno durando segundos.
Decidiram que não mais sofreriam por tão pouco, disseram que ririam até nas piores horas, descobriram que o mundo não era aquela fantasia na qual tanto desejavam e fizeram muitas coisas juntas. Riram dos amores descompromissados. Quebraram promessas, mas continuaram cada vez mais unidas, por mais que agora pareçam um pouco desconectadas entre elas mesmas.
Aprendera com aquela amizade, parecia querer repetir cada erro como se fosse um só, completar desejos impossíveis e por quase nada, queria magoar-se novamente, só para ver aquela menininha de cabelos curtos crescendo e acordando ainda mais com suas perguntas sem respostas. Acordando para o que deveria ser ensinado em todos os pequenos lugares. Ela esperava os momentos que a pequena iria reclamar sobre algo ou pergunta-lhe sobre coisas aleatórias no qual nem ela saberia a resposta. Realmente sentia-se uma irmã mais velha, mesmo que só um pouco mais de tempo. Essa nem era ligada ao seu sangue – um sentimento ainda mais forte e mais protegido.
Queria isolar aquela pequena de todos os problemas, mesmo que esses viessem todos para ela mesma; queria ver aquele sorriso encantador todos os dias; queria aquele abraço sufocante que só aquela menininha sabia dar; queria que tudo sumisse e houvesse recompensas; queria que ela parasse de se destruir por quase nada.
Pequena, com tantas qualidade, aquelas bochechas compostas de dois mínimos e mimados cemitérios. Um coração sem fim – destruindo-se aos poucos e sem dó. Sem motivo; sem cor. Aquilo doía, mas ela tentava esconder sua dor, ficava longe enquanto observava, não queria dar opiniões sobre o que não lhe deveria importar, apenas respostas ao que perguntaria e teria, talvez, mais valor. Porém, tudo aquilo machucava a própria menina um tanto rebelde que cantarolava diariamente qualquer música direta dos Beatles.
Sabe, aquela parecia ser uma de suas missões. Ela desejava ajudar aquela pessoa, mesmo que negasse sua ajuda e fosse involuntariamente. Parecia criar um vinculo invisível e um tanto significativo. Queria doar-se para ajuda-la, sabia que aquela pessoa só estava vestindo uma máscara com medo de ser frágil demais. Cheia de sorrisos falsos, fingindo estar bem enquanto corroía-se por dentro. Ela já vira muito dessas histórias, mas nunca quis tanto participar desta, como agora.
A menina mudou aos poucos e a outra realmente tinha orgulho dela, por mais que a mesma parecesse um pouco hipócrita na maior parte do tempo. Sua vida mudava pra melhor e disso todos tinham certeza, por mais problemas que ainda tivesse. Seu humor tornou-se mais constante, sendo possuído pela felicidade verdadeira, não precisava mais enganar aos outros e decidira ser mais sincera consigo mesma. Isso era um grande passo.
Aquela amizade crescia, mesmo que sem ver. Ela sentia-se um pouco enciumada e trocada, mas sabia que a menina estava bem e era isso que importava. Sorria em troca de um sorriso dela; mudava seu humor por conta dela e de seus insistentes pedidos.
Sabe, às vezes acho que ela nunca mais achará uma amizade assim como a que tem com essa menininha. Não sei, é apenas esquisito imaginar alguém preenchendo o lugar que seria dela, talvez aquele espaço só seja completo por ela mesma e, mesmo que tudo desapareça, aquele lugar estaria designado à mesma e disso todos tinham certeza absoluta. Apagava-se tudo, menos o brilho aos olhos um pouco cegos.
Ela tinha certeza que a amava e aquilo estava entre as amizades mais importantes do mundo, talvez ambas devessem receber um prêmio Nobel ou uma página no Guinness que as destacassem como amigas inseparáveis. Mas, nossa, que clichê de merda.
Incognição, o texto foi dedicado à alguém.
Mas gosto, gosto das pessoas. Não sei me comunicar com elas, mas gosto de vê-las, de estar ao seu lado, saber suas tristezas, suas esperas, suas vidas. Às vezes também me dá uma bruta raiva delas, de sua tristeza, sua mesquinhez. Depois penso que não tenho o direito de julgar ninguém, que cada um pode — e deve — ser o que é, ninguém tem nada com isso. Em seguida, minha outra parte sussurra em meus ouvidos que aí, justamente aí, está o grande mal das pessoas: o fato de serem como são e ninguém poder fazer nada. Só elas poderiam fazer alguma coisa por si próprias, mas não fazem porque não se veem, não sabem como são. Ou, se sabem, fecham os olhos e continuam fingindo, a vida inteira fingindo que não sabem.
Caio Fernando Abreu

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Mania de jogar o cabelo pro lado. Mania de sorrir quando sente alguém olhando demais. Mania de coçar os olhos e olhar o visor do celular como se houvesse chegado alguma coisa e não viu. Mania de estudar escutando música e revirar os olhos sempre que escuta, ouve ou vê alguma bobagem. De sorrisos, de olhares, de vozes e cheiros. Mania de achar que nem tudo é aquilo que se vê. De imaginar situações com quem nunca viu e se arrepiar, sorrir, se desesperar por isso. Mania de fechar os olhos antes de dormir e te desejar boa noite em pensamento, dorme bem, sonha comigo, te quero muito e bem.
Caio Fernando Abreu.

domingo, 27 de maio de 2012

Apenas um passado.

Queria que o passado ainda estivesse preso em meu futuro; queria poder segurar a farda que eu carreguei desde o início, mas eu não queria usá-la; queria poder dizer que tudo fora apenas um sonho acordado; queria dizer que os gritos e choros foram apenas um engano sonoro; queria que a terra caindo fosse apenas uma miragem. Queria poder dizer adeus àquele momento e continuar. Normalmente. Sorrindo e imaginando como seria o dia seguinte, sem ter o medo preso em meu coração. Queria flutuar, assim como as borboletas, antigamente, ainda faziam ao meu redor. 
O sorriso estampado nas faces absortas e as lágrimas só servindo de fuga para a tristeza, apenas demonstrando a felicidade exposta sobre os corações arrebatadores. 
Nesse momento, talvez o monótono fosse necessário. O que acha de retornarmos ao passado e trazer o clichê de volta? Será que tudo voltaria ao normal? Eu espero.
Brancos, negros, pobres, ricos, diferentes, iguais e felizes - todos iguais. Honestidade sem máscaras e tudo trago ao redor; tudo muito dividido. 
Agora eu gostaria apenas de ver os olhos daquela criança brilhando, seus pensamentos imaginários trazendo os "porquês" e seus dentes-de-leite ainda à amostra. Aquelas lágrimas não podiam permanecer em sua face de boneco, poderíamos rir juntos.
Não quero seguir o diferente, apenas necessito do passado de volta. Preciso resgatar a felicidade e dispensar as horas extras feitas pela morte e pela tristeza. Seguir em frente e não olhar os estragos. Denunciar o errado e seguir o certo. Poder ajudar quem não pode fugir, todos somos vítimas, mas por dentro apenas alguns podem sentir a dor que posso possuir, junto com outras pessoas. Será mesmo que aquele ser invisível mostra seu sorriso e está bem? Quero apenas tudo de volta, eliminar a desgraça e costurar meu coração de volta ao local de onde ele partiu-se. Parece que ele não quer retornar.

 Incognição.

Medo de si próprio.

As batidas de seu coração não se encontravam em sintonia com seus passos, era algo tão relativo e irrisório. O arfar percorria o seu corpo e lhe puxava para dentro de uma cúpula deserta – vazia. Era como um fim certo e duvidoso; errado. Equilibrado.
As gotículas de suor fraquejavam sobre o curto cabelo de escovinha, revirado de vários ângulos. Iluminado por pequenos fios roliços e negros, era como o fim de sua alma estar ali.
Sua visão enquadrada à luzes sem fim, juntamente com as cores dançantes por sobre suas pálpebras. 
O terror lhe invadia a tez frágil, tornando-o lânguido por alma. Vago. Fazendo dos sons seu pior inimigo, aquele latido transformava-se em um uivo pequeno, alto e perto. Em segundos, como se aquilo estivesse alcançando-o, quisesse matá-lo e repicar sua face. Ele sentia medo, pânico... Dor.
Seus pés adormeciam lentamente, teimando em parar para apossasse do corpo miúdo do menino e debatesse no chão, enquanto o peso lhe fraquejava as pernas ossudas. 
Os óculos embaçados eram acertados à cada um segundo, eu podia contar. Ele corria em círculos em seu pequeno quarto e diversas vezes ele debatia-se à parede, como um obstáculo no qual ele pudesse ultrapassar. Como se ele fosse um cego que só pudesse ver o negrume da noite. Parecia um doente sem imagem, mas era apenas um zumbi adormecido; um eterno sonhador em pleno caos de pesadelo. 
E eu, apenas um escritor revirando páginas de um livro esquecido – deitado nas sombras e com medo do sol. Com medo da alma; com medo de um certo uivo ao entardecer. Um menino cegueira, preso em seus pensamentos absortos.
Posso esquivar-me ao sol para ver além dele? Seguindo a rota das estrelas e o posicionar da lua, ao lado oeste.

Incognição.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Acordar.

Ele não vai te ligar e pedir desculpas, talvez não fale com você nem por internet. Não vai se arrepender de nada do que fez, e nem reconhecer que errou. Não vai perceber que está te perdendo aos poucos, ou que já perdeu. Não vai pedir pra que tudo volte a ser como era antes, ele está feliz assim. Não vai dizer para os amigos que sente a sua falta ou algo do tipo, e nem lembrar de você ao ouvir uma música. Ele não vai passar noites acordado pensando no quanto poderia ter dado certo, nem vai ficar imaginando planos que um dia poderiam se realizar. Não vai sentir ciúmes ao ver você conversando com outro menino e, com toda certeza do mundo, não vai passar horas no seu perfil só pra saber como foi seu dia, ou se você se interessou por alguém. Ele não vai perceber que fez a maior burrada de sua vida, nem vai se lamentar por ter perdido a pessoa que o fazia sorrir. Ele não vai compartilhar fotos de casais no facebook, e nem escrever coisas tristes no twitter. Ele não vai chorar, nem sofrer e muito menos morrer de amor. Não vai dar justificativas do por quê de tudo ter acabado, e nem vai querer saber o que você pensa sobre, e nem como você reagiu a tudo isso. Ele não vai sorrir ao te encontrar na rua e, se te ver, não vai ficar pensando o dia inteiro em como seu cabelo estava lindo ou em como o seu sorriso é estonteante. Ele não vai correr atrás de ninguém, e provavelmente logo estará com a menina mais fácil que encontrou por aí. Ele não vai te amar, isso, se chegou a amar um dia
Marília Lopes.

domingo, 20 de maio de 2012

Apagou-se.

O céu estava negro. Sem estrelas, sem esperanças.
Seus pequenos olhos de amêndoas examinavam cada parte do pequeno local que habitava naquele instante. As órbitas opacas demonstravam a falta do brilho que antes à possuía e as pálpebras fechavam sem pausa, deixando com que respingos de lágrimas salpicassem por sua face – o sabor salgado molhava seus lábios presos em uma careta tristonha. O caminhar em direção à mais alta lápide causava bolhas em seus pés descalços.
Louis saltitava por sobre os pedregulhos do parque enquanto a triste mensagem era solta de seus lábios entre gargalhadas.— Tenho um mês, no máximo, Lolita. Espero que cuide do Ugh-Ugh enquanto eu estiver fora.— Você ficará fora por quanto tempo? — Ela fingia ignorar as primeiras palavras.— Muito tempo, Loli. — Um sorriso esticou-se por sua face e Lolita encarou os lindos olhos cor-de-mar da amiga.— Piorou? — Seus olhos enchiam-se de lágrimas.— Bastante. — Gotas pingavam calmamente sobre a face celestial da menina albina e seus olhos não brilhavam nas luzes. Louis enxugou as lágrimas que escorriam pelo rosto da amiga e completou: — Não chore, pois a estrela brilhará e te guiará. Não chore por mim, chore por eles. Uma doença pode ser fatal, mas as palavras que escrevo nunca se apagam.
Disse entregando-lhe um rolo de papel com a letra rabiscada de Louis.— Não abra hoje. — Louis completou enquanto a amiga já abria um pedaço e o fechou de imediato — Me prometa, Loli.
— Prometo.— E prometa que não chorará.Lolita hesitou, era impossível se controlar. Ainda mais tratando-se desse assunto. Ela perderia sua amiga em um mês!— Prometa! Por favor Loli. — Pela primeira vez Lolita viu lágrimas saltarem dos olhos de Louis.— Sim, eu prometo. Porém, me prometa que sempre estará comigo, que o último brilho estará no seu coração e depois diga-me quando poderei partir.— Coração? Coração estúpido o meu que insiste em parar três segundos por dia e pela última vez baterá.
O brilho voltou e as lágrimas secaram-se com a brisa suave que balançava seus cachos dourados, de linho, trançados por ouro amarelo. Um sorriso tomou conta do ambiente e as pessoas ao seu redor à encararam com desprezo. Não a entenderam. Ela ergueu os braços, chamando as atenções, e suas palavras soavam suaves depois de tanto tempo travadas:

— Não sinto mais a dor, ela está profunda em um órgão que todos insistem ser chamado de coração. Que pulsa pela minha vida, destrói o ódio e planta o amor alheio. Eu amava Louis, ela era a melhor das amigas que alguém já possuiu no mundo e irá possuir. Ela está no meu corpo, no meu pensamento, não neste estúpido coração medíocre. — Desceu suas mãos ao corpo e apertou o órgão que pronunciava e continuou, erguendo sua voz — Tudo eu guardo em meus pensamentos e eu viverei até que a última estrela brilhe no céu, até que o último prato de feijão seja entregue aos necessitados... Até que o último brilho dos olhos de Louis se apague em meio a escuridão de uma ceia sem graça. Ela não gostaria da primeira lágrima que derramei e sempre me lembrarei de suas pequenas palavras alegres no seu último momento comigo. “Não chore, pois a estrela brilhará e te guiará. Não chore por mim, chore por eles. Uma doença pode ser fatal, mas as palavras que escrevo nunca se apagam”. Eu a amo como a melhor amiga que já possuí, a única que terei em seus momentos.
Depois disso não se viu mais nada. Não se viu o céu, não se viu o mar; não se viu a lua que se escondia no negro céu (com seu reflexo ao mar), não se viu as estrelas-do-mar; não se viu os cantos dos pássaros nas manhãs aquecidas, não se viu o “glup-glup” dos peixes que borbulhavam nos lagos.
A última lágrima caiu e ela virou as costas. Ignorando o mundo, seguindo o único brilho que emergia no céu – o brilho que só ela via, o sorriso de sua eterna tagarela.
Incognição.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Suicídio espiritual.

Seu corpo balançava em sintonia com o som distante tocado pela lira, seus olhos piscavam juntamente com a pausa poética da voz suave que ele ignorava. Os sons de suas palavras tornavam-se mudas em seus pensamentos absortos e a felicidade ainda resplandecia. Era como uma cadeia alimentar, animais sobreviviam a isso; John sobrevivia ao som suave da pequena lira soando distante, tão longe de seus ouvidos. A música o seguia, não importava.
Os dias se passavam e a canção soltava-se aos ouvidos, estancavam-se à eles. John enlouquecia de certa forma tentadora e seus sonhos não eram mais sonhos. A depressão lhe invadia a face. A música se tornava trilha sonora de filmes de terror, de cenas de amor e de pesadelos reais. Ideias subliminares invadiam a canção antes suave. Ele lutava com o sofrimento ao mesmo tempo em que matava a si próprio, não sentia dores de um corpo solene. Ele era apenas uma borboleta querendo voar em um mundo musical; sem vida espiritual.
O sangue invadia sua face celestial e seus olhos azuis cobalto não realçam mais o calor de sua pele gélida, pálida. O vermelho tornou-se eterno e seus pés curvos tornaram-se essenciais. O prédio de onze andares o ajudava – pulou. Agora era uma borboleta, talvez uma águia pronta a debruçar-se sobre um animal indefeso. Isso tudo não passa apenas de uma plena cadeia alimentar, onde apenas o forte sobrevive. Alimente-me.
"Desisto do mundo, desisto das palavras e desisto do amor. Aquele que me partiu a carne em pedaços, retirando o único órgão que ainda batia no meu eu e podia ter algo a trazer. A música pode ser a alma para trazer tudo à vida. Trago-te em um papel, o das listas dos próximos mortos que lhe trago – você é a primeira da lista. Eu apenas desisto da vida, em todas as letras que podem sair de meus lábios agora, eu apenas digo um adeus rouco e sem voz interna. Desisto."
Incognição.

Ódio.

O rancor invadia as luzes petrificadas de um ódio restrito ecoando pelo quarto vazio; sem vida. As lágrimas tomavam conta do eterno choro preso em sua tez amarrada à dor, ao sofrimento de um odiar eterno. Em sua mente, o latejar de uma crise estupefata do desejo inevitável, a morte de um corpo imóvel jogado ao carvão de uma vida sem chaminé. Alimentar-se das pequenas coisas lhe parecia uma ótima ideia, igual o sussurrar de uma dor alinhada e o paradoxo da raiva esvaziava-se entre os lençóis curtos à medida que se tratava de seus pés nuns. Tudo lhe mostrava a cólera; um sentimento de ira, de remoção.
Seres compostos da rivalidade de um mundo sem senso, de uma vida sem vida, do amor sem o perdão. A falta invadia suas tripas na metida que seu coração batia fracamente sobre a vida destroçada. O pequeno inferno imposto sobre você mesmo, sobre o amor empilhado aos corpos nuns em um cadáver decepado; o sangue composto das substâncias que almeja. O arfar da agonia invadia sobre o ódio do rancor e os cachos bronzeados contornavam-se sobre a tez da menina que se sentava ao canto suave de vidas impostas e chorava agoniada. Uma palavra permanecia sob sua mente vazia: Rancor. Chorar não fazia bem o quanto diziam e seu coração estava apertado entre o vão de pequenos órgãos massacrados.
O ódio lhe pertencia, assim como as teses lhe satisfaziam e a falsidade lhe importava.

Incognição.

Classicismo.


Todos estavam enfileirados sobre o tapete felpudo que ligava a escada até a extremidade mais curta da grande porta do museu. Viam-se diferentes expressões em cada face dos alunos do colégio central: entediadas, animadas e neutras. Os professores contavam cada cabeça, como se fossem um grande número de gado precioso. Apenas uma pessoa de aparência meiga, delicada, destacava-se entre todas elas; a menina com um olhar tímido e encolhida ao canto do ônibus – sendo a última à deixar o ônibus. Solitária, parecendo pronta a desmoronar no primeiro toque de outro alguém. Estava corada, demonstrando ainda mais o empreendimento.

— Louis, venha, eles vão abrir os portões do museu — Um menino rechonchudo com cachos de anjo apareceu trotando, em direção à menina loira, e pingando suor sobre as grandes bolas negras que havia aos lados de seu grande nariz de porco. Desmoronou-se no chão enquanto pisava em seu cadarço desamarrado, levantando-se atordoado com o baque que tremera o ônibus chamando atenção de todos ao redor e voltando-se para Louis os amarrar sobre a cadeira do ônibus — Arg... Cadarço cretino.
— Você tem que se acalmar, Jack. Não iremos perder nada, o teatro atrás só abrirá mais tarde.
— Não é isso, quero ver as pinturas e os textos trancados entre as pilastras de vidro. — Arfou. — E você sabe, preciso saber onde minhas obras ficarão um dia — Louis soltou uma risada abafada — Não ria, eu lutarei por isso.
Jack saiu correndo em direção à grande porta de madeira que se abria, caindo novamente sobre o tapete vinho tinto. Atrapalhado. Louis ainda possuía seu andar calmo e encarava o chão, rindo um pouco do jeito que seu amigo estava desengonçado e animado com aquele passeio. Ela gostava de vê-lo sorrir. Seus cabelos faziam cachos nas pontas com a brisa fina que batia sobre sua face, enquanto o menino a gritava e acenava insistentes vezes com o intuito dela vê-lo entrando ao museu.
Adentrando o mesmo ela abriu um belo sorriso, enquanto observava o teto e as paredes do local decoradas com pinturas – que mais se pareciam rupestres. Uma música erudita ocidental invadia, suavemente, os ouvidos de Louis, fazendo-a flutuar sobre suas sapatilhas azuladas que realçavam a cor de seus olhos cor de mar – um belo par para os de Jack. Suas mãos foram agarradas e puxadas para outra sessão enquanto seus olhos fechados demonstravam a satisfação do cheiro de ervas que invadia o local.

— É aqui que ela vai ficar! — Seus pés saltaram do chão ao ver Jack pegando uma cola e seu texto com letras garranchadas e ilegíveis.
— O que está fazendo, Jack?
— Estou deixando minha marca neste museu, eu te disse que ele iria ficar aqui. — Respondeu enquanto já o colava, em cima de outro que provavelmente seria de Camões, sobre a pilastra de vidro.
— Você não pode fazer isso. — Louis soltou um breve grito agudo que fez com que Jack tapasse os ouvidos.
— Cuidado com seus gritos. — Bufou. — E por que não posso?
A música cessara e o museu antes clássico tornou-se um inferno para Louis. O teatro falhara, mesmo com a peça na qual ela sempre gostou da época do Neoclassicismo, e o museu que valorizava as antiguidades clássicas não bastava. Seu amigo soluçava e seus sonhos foram jogados no lixo por uma ambição repentina. Ela não queria estar ali. O clássico se tornou vital e as artes que sempre quis conhecer só iluminavam o grande museu artístico, que renascia cada obra dos grandes fiéis do classicismo. Sabia ela o significado de tudo antes de questionar Jack?
Uma última estrela brilhou no céu violeta.
Não, ela não sabia de nada. Não sabia como era ver novamente um sorriso vindo de Jack, mesmo que ele estivesse certo. Não via emoção em seu olhar e não viu naquele momento que mesmo que ele estivesse fazendo uma coisa ilegal, não poderia questioná-lo por velhas artes clássicas. Ele era seu amigo, aquele que possuía o mais lindo sorriso e retirava todos os sentidos de Louis. Talvez aquele fosse o único, o mais precioso de todos os diamantes, quem sabe.
Incognição.
"A gente podia ter tido mais calma. Podíamos ter ido mais devagar. Deveríamos ter segurado a onda e medido as palavras. A gente tinha que ter tentado controlar a raiva para não magoar o outro. Nossos passos tinham que ter sido exatos, nossos tropeços eram pra significar NADA perto daquilo que estava começando a ser algo especial e único. Erramos feio. Falamos demais e agimos de menos. Magoamos demais e amamos de menos. Gritamos demais e fomos sensíveis de menos. Lutamos demais e nos entregamos de menos. Relutamos e tivemos medo demais e nos apaixonamos de menos. Erramos feio. Tudo que não era pra ser feito fizemos em dobro. E o que era pra ser…bem, ficamos no saldo devedor, no vermelho. A gente podia ter tido uma história linda. Mágica, pura, sem cobranças, cheia de respeito, livre, saudável e deliciosa como o barulho da chuva. Era pra ter sido amor."
Clarissa Corrêa.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Não goste do amor.

Não goste do amor. Goste de quem te ame, alguém que te espere, alguém que te compreenda mesmo nos momentos de loucura, de alguém que te ajude, que te guie, que seja seu apoio, tua esperança, teu tudo. Não goste do amor, goste de alguém que não te traia, que seja fiel, que sonhe contigo na tua delicadeza, no teu espirito e não no seu corpo, nem em teus bens. Não goste do amor... Goste de alguém que te espere até o final, de alguém que sofra junto com você, que ria junto de ti e enxugue suas lágrimas, que te abrigues quando necessário, que fique feliz com suas alegrias e que te dê forças depois de um fracasso. Não goste do amor. Goste de alguém que volte pra conversar com você depois das brigas, depois do desencontro. De alguém que seja companheiro, que respeite tuas fantasias e tuas ilusões. Goste de alguém que te ame. Não goste do amor... Goste de alguém que sinta o mesmo sentimento por você e que caminhe junto com você.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Preciso sim, preciso tanto. Alguém que aceite tanto meus sonos demorados quanto minhas insônias insuportáveis. (…) Preciso dessa emoção que os antigos chamavam de amor, quando sexo não era morte e as pessoas não tinham medo disso que fazia a gente dissolver o próprio ego no ego do outro e misturar coxas e espíritos no fundo do outro-você, outro-espelho, outro-igual-sedento-de-não-solidão, bicho-carente, tigre e lótus. Preciso de você que eu tanto amo e nunca encontrei. Para continuar vivendo, preciso da parte de mim que não está em mim, mas guardada em você que eu não conheço.
Caio Fernando Abreu.

sábado, 21 de janeiro de 2012

(Conto) O dia em que os mortos podem retornar.

A lua estampava o imenso céu estrelado, tomando espaço para o brilho mais intenso do mundo. A noite em que os seres mortos poderiam renascer e, talvez, pudessem brilhar como a estrela mais estridente que pudesse existir. 
Nessa noite, eles todos existiam em corpo e alma. 
Doces classificavam as casas e as criaturas brilhavam durante a noite transparente. O mundo transformava-se em um imenso apontador azul, salpicado por terrenos esverdeados. Terras frágeis. Os ratos corriam para suas tocas, em busca da comida escondida e térrea, distante da vizinhança assombrada. 
Nessa época, as flores tornavam-se laranjas contrapondo as cores do outono e revertendo as abóboras mascaradas. As casas investiam em detalhes luxuosos e assustadores, junto com as velas, que iluminavam as calçadas. Os postes apagados e as moscas sem lugar para proliferar-se. Era demais uma noite como aquelas.
Bruxas disfarçavam-se de estrela-cadente, enquanto voavam pelo imenso céu, dando gargalhadas e jogando substâncias de suas iguarias. Caldeirões abriam espaço dentre todas as muambas expostas nas cabanas de palha, reforçadas por pilhares. 
Aquela não era uma noite qualquer, naquele dia, as bruxas saiam de suas tocas. Seus dentes podres e suas verrugas na ponta do nariz reto e comprido podiam brilhar na luz do luar. Eram bruxas sem coração e risadas em um pulmão, seco e vazio. 
Leves respingos afundavam sobre as vestes de Cassandra, o chapéu pontudo cobria-lhe metade da face e suas botas de fivela roxa afundava-se na lama – que grudara-se no tecido, dificultando a corrida pela ravina molhada. A bruma subia-se dentre a neblina e a brisa gélida invadia a face nua da moça incomum.
Risadas a seguiam, juntamente com passos pesados e faces destroçadas. Os braços cegueiros, desprezos do tronco, balançavam em constante sintonia com a corrida arfante.
A cabeça de Cassandra rodava e seus pés calosos insistiam em derramar-se naquela lama e desfrutar do pecado, ser queimada viva diante de uma fuga. Seus pés sobrevoavam o local, dito assim que sua leveza depois de adquirir a magia negra iria tornar-se leve, assim como seu corpo magricelo – inferior ao peso de uma bíblia gigante. 
Um corvo negro tomou conta do local embaçado, pousando suas pequenas garras ao tronco musgo de uma árvore centenária à frente. Suas asas batiam três vezes mais do que as passadas largas da mulher albina, a plumagem descia sorrateira sob as mesmas penas que a seguiam.
As lágrimas da deusa tocavam os lábios carnudos e secos de Cassandra. Suas vestes úmidas, seus olhos cegos e seus pés escorregadios faziam-na desistir de sua vida. Seus ouvidos clamavam pelo sabor da chama tocando a tez da ruiva. As cabeças contorcendo-se e um pescoço quebrado. Era um conjunto a ser traçado.
Os cachos bronzeados pararam de tremer e a brisa cessou. A neblina ainda inundava o local, mas, por instinto, a pequena mulher enfiou-se por detrás da árvore centenária. Abaixo do mundo; abaixo do santo corvo destroçado. 
Ela escondia-se do universo, trazendo seu livro de magia abaixo dos braços. 
Os passos pesados e o aroma da chama precipitavam-se ao passar ao lado da mulher. Sua respiração diminuiu, obrigava-se a calar-se dentro do abismo da morte serena. Oscilava ao ver a mesma passar ao seu redor. Puxou o pouco de pele de sapo que lhe restou dentro do bolso das vestes e mastigou, parecia que aquilo era apenas mais um doce no mundo real – aquele em que humanos ainda podiam existir.
Os passos cessaram e a voz gritante calou-se em vão, o silencio tomava conta do local e, assim, Cassandra poderia deliciar-se do descanso da árvore aposentada. Mas, não. Apoiou-se no tronco em que o corvo salpicava e ergueu os braços, revirando as imensas páginas do livro de veludo – descrito por páginas soltas e suspiros estranhos.
— Mostre-me a resposta. Diga-me o que é o mundo, trago-lhe lembranças de uma vida angustiada. Sigo-te pela eternidade, caçai-me com louvor e exultai-me claramente. — Os lábios de Cassandra apenas moviam-se, pois o som pouco se ouvia. Era um sussurro mudo, surdo. Após as palavras, o livro revirou-se em páginas e uma chuva das mesmas reinou-se no local, esparramou-se o ventre do livro ao chão enlameado. Porém, as folhas velhas continuavam as mesmas, sem sinais de locomoção. 
O livro parou de sussurrar e pousou uma das páginas nas mãos de Cassandra. Os dedos longos percorriam as palavras, como algo insistente, e as órbitas saltavam de seus olhos. Estava cautelosa e murmurava breves exclamações entre uma pausa e outra, dentre os parágrafos.
— “Execute os vivos; sobrevivam os mortos.” Um bom modo de deixar-me a resposta. — Zombou. Virando o livro de cabeça para baixo e sacudindo-o, parecia que havia um humano dentro do mesmo, aquele que poderia gritar e afundar sobre os tímpanos. A mulher revirou os olhos e desvirou o livro, acalmando-o. — Poderia, pelo menos, trazer-me a mensagem de como trazer uma foice em minhas mãos, assim seria um modo fácil de eliminá-los, não concorda? — Cassandra assoprou a página e o pouco de fuligem ainda inundava a capa. Ela não lia, apenas exaltava, muda, as coisas que lhe percorriam em mente. O livro tossiu.
— Você pediu uma resposta e eu lhe trouxe, minha senhora. Trago-lhe a melhor hipótese dentre a inscrição dos executados em meu mundo. Eliminai os que a tratam mal e traga-me os eternos palmos destroçados de um zumbi caricaturista. — Zombou. — Eu lhe dei a beleza de uma humana, fazei de mim um só e aceite minhas opções, sem pigarrear. 
— Farei o que pede, pois estou em apuros e a procura do mal. Não desejo as verrugas de volta à minha face. — No mesmo instante, Cassandra sentou-se ao chão e iniciou o processo que o livro exaltava.
A preparação era longa, mas podia-se dizer que era opção forte para um iniciante qualquer, não que Cassandra fosse iniciante neste mundo. Apenas podia-se dizer que o processo era de fácil acesso, o que complementava o bom e trazia-lhe o mal. 
Ao longe, podia-se ver a fumaça dentre as árvores distantes. A fogueira havia sido montada e o cheiro decomposto já invadia a narina da bruxa. Enquanto a chama queimava e os gritos oriundos eram ouvidos, Cassandra pode entender o significado de renascer os mortos. Podia-se dizer que aquele era um dos sonhos mais malévolos da mente perversa da ruiva. 
Tudo estava pronto, exceto por uma pequena amostra de carne humana ou sangue de um animal. Olhava ao redor e pouco se via o oriente e o cemitério encontrava-se infestado. Após tudo, pode-se lembrar. Cassandra nomeava-se um animal. Fincou os dentes pálidos na própria tez e arrancou-lhe um pedaço da mesma. Chupou seu sangue por um tempo e tampou a pele ao pequeno caldeirão borbulhante. O sangue pingava sem a noção do tempo e a pele soltava-se com o vapor. A fumaça aumentou e um estouro ergueu-se do chão. Estava pronto.
Um último grito sorrateiro foi solto dos galhos, o corvo saltou-se da árvore nu e morto. Suas penas brilhavam sobre o caldeirão e um sorriso foi solto aos lábios de Cassandra. A brisa dançou com seu cabelo e pode-se ouvir os sussurros de salvação soltos pelas bruxas em Salém. 
Cheiro de terra úmida e semi cavada invadia sua narina frágil aos sabores e ao aroma. Cravou os lábios em sua pele, ainda pingando, e explorou os locais com sua língua áspera. Sentia-se masoquista em pensamento, mas aquele era um motivo para estar feliz. Talvez o mundo morresse e os mutantes reinassem.


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A preparação era longa, vivia-se de pão e água. Inchava-se por dentro e encontrava uma remoção eterna em seu coração de vidro, que ainda podia bater com total sintonia ao amar de um campeão. Seus olhos arroxeados, marcados pelo sofrimento da perda, ainda podiam reinar durante o tempo mal escrito. A lembrança lhe socava a cabeça, trazendo o passado de volta ao presente. 
Sentava-se na calçada e admirava o tempo passar. Talvez o tempo pudesse voar de seu relógio e a noite crescer em vão, mas sabia-se que nada era relativo ao que sentia. A bola poderia bater em sua cabeça diversas vezes, os carros poderiam buzinar e, até mesmo, os colegas poderiam pular em sua frente, zoando-a ou chamar sua atenção com algo banal, mas ela não poderia mover-se. Estava em um mundo distante e vazio. Gélido. Seus pulmões ardiam e o frio queimava-lhe a tez. Ela pensava nas desgraças e podia imaginar o futuro. 
Uma estranha ainda mais estranha, absorvida pelo passado e presa dentre o medo. Agarrava-se à suas pernas, ciente de que em pensamento partia ao distante. Dispersa. As palavras não podiam tirá-la do transe. 
Ninguém poderia sentir o que ela sentia, era impossível. Apenas quem perdeu alguém poderia ter o sentimento de aperto, no qual a corroia por dentro.
O abraço rompeu-se, as palavras confortantes calaram-se e as fotos tornaram-se transparentes, depois de um ano, o mundo desabou e as datas especiais criaram vínculo com as emoções. As folhas do outono trocaram de face, renovando suas forças e crescendo com o caule do sofrer.
O mundo calou-se e os eixos romperam-se. Uma criança com a dor do perder, era monótono a vida entre uma cama e uma calçada cheia de pedregulhos do passado.
— Traga-me o guerreiro. Não me importo que ele possua cicatrizes, pois deles eu posso servir-me e sarar-me. Apenas peço que o traga em vida, pois do resto eu me satisfaço sozinha. Tenho o poder da cura, mas não possuo o poder da vida, peço que tudo se desfaça em meus pés e ele retorne ao presente. — Falava mansa e suas órbitas estavam em chama, relatavam o momento em que tudo era o nada e que ele podia satisfazê-la. A dor a possuía, mas a dor do ódio. — Levem todos e deixe-o. 
Um silêncio tomou conta do local, apenas os murmúrios podiam ser ouvidos. Até então. Um baque tomou a rua, agora deserta, e uma luz violeta brilhou por detrás do arbusto. Cassandra acordou de seus sonhos e desvirou os olhos, trazendo as órbitas negras de volta ao presente. Apoiou-se nas pedras e levantou-se, ainda encarando o vazio, a luz brilhante, a única que ainda podia iluminar sua visão dentre o breu que se erguia ao redor.
Os passos errantes eram seguidos, um atrás do outro. Sua visão tremia, mas um sinal poderia ergue-se. E se fosse ele? Poderia sorrir?
Adotou a coragem e continuou em passos mais leves, mas ainda errantes. Seria uma briga com a vida, algo oposto ao presente. Preferia seguir em frente ao voltar aos seus passos calados e, agora, distantes de novo. A cada passo podia-se ver as gotículas de preocupação brotarem em sua testa, e sempre que andava cautelosa a luz irradiava ao local ainda mais. Apenas mais uns passos e estaria ali, encarando o ser que poderia aguardá-la e arrancar sua pele por inteira, deixando seus órgãos nus. 
Uma explosão ergueu-se e tudo se apagou. Apenas um livro devorou-a por inteira, voltando páginas e mais páginas, demonstrando o passado e nunca mais a deixando voltar ao futuro.
Queria crescer, mas era impossível se dissessem que nessas décadas, de hoje em dia, ela poderia ter mais de mil anos, enquanto no futuro ela tinha apenas onze anos. Era estranho, assim como ela era. Um pedido distante poderia transformá-la em uma trajetória errante do mundo. Aquela em que, na Idade Média, era julgada pelo mundo e queimada no fogo. 
Ela teve seu pai de volta, um morto-vivo. Porém, não se reencontraram. Ele ficou no futuro e ela foi ao passado, brincar de bruxa sedentária. Horrorosa e com todos os seus desejos em um livro encantado – o mesmo que a trouxe ao passado.
A lua já estava a iluminar o céu e uma das estrelas pôde brilhar ainda mais do que antes, o dia trinta e um de outubro foi marcado por uma pata de tigre, mansa. Pintada com a mancha e trazida ao passado. As lágrimas tiraram a sede que lhe servia ao pai. Podia sorrir, por enquanto.


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— Dizem que o mundo, ao retornar ao passado, tornava-se melhor e mais bonito. Porém, não vejo algo bonito neste lugar distante. É algo vazio. Apenas meu coração irritado ainda serve-me de consolo, a única coisa boa que ainda pertence a esse mundo. O órgão ao qual foi costurando, com agulha, enquanto eu ainda podia chorar. Estou seca em lágrimas e o ódio penetra-me. A magia absorveu-me e a cura agora me serve ao mal. Um demônio em corpo humano, destacado pela vingança e pelo ódio. A vida aqui é um abismo, no qual só eu posso sobreviver. Tenho a chave do mundo e, assim que eu voltar, trarei a morte e arcaram com as consequências de meu pai. Aquele que vocês mataram, humanos ridículos. Tornar-me-ei a torturá-los, pois terei o coração que hoje lhes servem. A vida não penetrará mais em você. — Murmurava quieta, enquanto torcia os punhos, pronta a apunhalar alguém e socar à morte. Sentada ao topo de uma montanha, encarando as cenas do fogo ardente.
O mundo ainda não acreditava em bruxas quando as frases foram ditas, as vidas foram ameaçadas por magia, mas nenhum ser poderia crer em um nós. Um grupo de cidadãs malévolas, criticas da névoa que absorvem os castelos do rei e sugam sua vida. 
Algumas décadas após vários testamentos e casos elevados de vítimas, casos sobrenaturais, não diriam nada se uma das humanas não tivessem pigarreado a palavra “bruxa” após um atentado. Talvez aquilo fosse apenas uma ofensa sem sentido, mas seria bom se a mulher realmente não fosse uma bruxa. Ela ficou irada e detonou a cidade por completo, desde então, todas as cidades vizinhas temam na busca por sinais das mesmas. Crêem que as mesmas fugiram para essas cidades, após várias ameaças e mortes em meio à praça pública. Ardendo ao fogo. Desde então, todos adquiriram essas leis infiéis.
Um tempo se passou e já foi possível ouvir os passos pesados e o tronco destrancar as fechaduras. Cassandra parou de rir, mas continuou sentada, olhando perplexa para a porta, com os punhos cruzados e unidos, balançando os dedos longos e brincando com as unhas vermelhas.
Um, dois e três. Quatro baques. Cinco, seis, sete... As trancas desfaziam-se. Oito... Quase lá. Nove... Pouco. Dez, um estrondo.
Cassandra pulou por cima de sua vassoura e deu um adeus debochado, seus olhos pregaram o chão e denunciavam sua distinção.
Ignorou todos os galhos acima e deliciou-se ao bater em um deles, chacoalhando os cabelos e quase derrubando-se da vassoura. A lua salpicava no imenso manto azul-escuro e logo ela pode saltar sobre o chão e começar a correr com suas próprias pernas.
Eu sabia seu futuro.
Ela comandará o mundo das bruxas e não existirá mais humanos. Será uma ressurreição da carne podre, amarga. Tudo será diferente e o mundo será o mesmo cinza de sempre, preenchido por pequenos rabiscos coloridos, impressos em uma folha de jornal.
Afinal, um gato sábio estilhaçado em uma janela e sobrevivendo dos mortos, enquanto ainda sabia do seu passado, é algo muito incomum. Seria impossível não saber o que lhe aguardava.
Lembrando que depois de todos os acontecimentos fiéis foram tirados ao dia trinta e um de outubro de todos os anos, trazendo à tona tudo que deveria ser traçado. Sabendo o destino de todos. E ai? Doces ou travessuras?
Meus olhos reviraram-se, deixando apenas um buraco branco e profundo. Era a noite dos mortos-vivos e Cassandra afagava meus pelos negros, olhávamos pela janela e nos deliciávamos com as cenas retóricas de zumbis, enquanto ainda elaborávamos planos para cruzar com o livro de feitiços. Quem será o próximo a presentear?
Incognição.