domingo, 27 de maio de 2012

Apenas um passado.

Queria que o passado ainda estivesse preso em meu futuro; queria poder segurar a farda que eu carreguei desde o início, mas eu não queria usá-la; queria poder dizer que tudo fora apenas um sonho acordado; queria dizer que os gritos e choros foram apenas um engano sonoro; queria que a terra caindo fosse apenas uma miragem. Queria poder dizer adeus àquele momento e continuar. Normalmente. Sorrindo e imaginando como seria o dia seguinte, sem ter o medo preso em meu coração. Queria flutuar, assim como as borboletas, antigamente, ainda faziam ao meu redor. 
O sorriso estampado nas faces absortas e as lágrimas só servindo de fuga para a tristeza, apenas demonstrando a felicidade exposta sobre os corações arrebatadores. 
Nesse momento, talvez o monótono fosse necessário. O que acha de retornarmos ao passado e trazer o clichê de volta? Será que tudo voltaria ao normal? Eu espero.
Brancos, negros, pobres, ricos, diferentes, iguais e felizes - todos iguais. Honestidade sem máscaras e tudo trago ao redor; tudo muito dividido. 
Agora eu gostaria apenas de ver os olhos daquela criança brilhando, seus pensamentos imaginários trazendo os "porquês" e seus dentes-de-leite ainda à amostra. Aquelas lágrimas não podiam permanecer em sua face de boneco, poderíamos rir juntos.
Não quero seguir o diferente, apenas necessito do passado de volta. Preciso resgatar a felicidade e dispensar as horas extras feitas pela morte e pela tristeza. Seguir em frente e não olhar os estragos. Denunciar o errado e seguir o certo. Poder ajudar quem não pode fugir, todos somos vítimas, mas por dentro apenas alguns podem sentir a dor que posso possuir, junto com outras pessoas. Será mesmo que aquele ser invisível mostra seu sorriso e está bem? Quero apenas tudo de volta, eliminar a desgraça e costurar meu coração de volta ao local de onde ele partiu-se. Parece que ele não quer retornar.

 Incognição.

Medo de si próprio.

As batidas de seu coração não se encontravam em sintonia com seus passos, era algo tão relativo e irrisório. O arfar percorria o seu corpo e lhe puxava para dentro de uma cúpula deserta – vazia. Era como um fim certo e duvidoso; errado. Equilibrado.
As gotículas de suor fraquejavam sobre o curto cabelo de escovinha, revirado de vários ângulos. Iluminado por pequenos fios roliços e negros, era como o fim de sua alma estar ali.
Sua visão enquadrada à luzes sem fim, juntamente com as cores dançantes por sobre suas pálpebras. 
O terror lhe invadia a tez frágil, tornando-o lânguido por alma. Vago. Fazendo dos sons seu pior inimigo, aquele latido transformava-se em um uivo pequeno, alto e perto. Em segundos, como se aquilo estivesse alcançando-o, quisesse matá-lo e repicar sua face. Ele sentia medo, pânico... Dor.
Seus pés adormeciam lentamente, teimando em parar para apossasse do corpo miúdo do menino e debatesse no chão, enquanto o peso lhe fraquejava as pernas ossudas. 
Os óculos embaçados eram acertados à cada um segundo, eu podia contar. Ele corria em círculos em seu pequeno quarto e diversas vezes ele debatia-se à parede, como um obstáculo no qual ele pudesse ultrapassar. Como se ele fosse um cego que só pudesse ver o negrume da noite. Parecia um doente sem imagem, mas era apenas um zumbi adormecido; um eterno sonhador em pleno caos de pesadelo. 
E eu, apenas um escritor revirando páginas de um livro esquecido – deitado nas sombras e com medo do sol. Com medo da alma; com medo de um certo uivo ao entardecer. Um menino cegueira, preso em seus pensamentos absortos.
Posso esquivar-me ao sol para ver além dele? Seguindo a rota das estrelas e o posicionar da lua, ao lado oeste.

Incognição.