segunda-feira, 14 de maio de 2012

Classicismo.


Todos estavam enfileirados sobre o tapete felpudo que ligava a escada até a extremidade mais curta da grande porta do museu. Viam-se diferentes expressões em cada face dos alunos do colégio central: entediadas, animadas e neutras. Os professores contavam cada cabeça, como se fossem um grande número de gado precioso. Apenas uma pessoa de aparência meiga, delicada, destacava-se entre todas elas; a menina com um olhar tímido e encolhida ao canto do ônibus – sendo a última à deixar o ônibus. Solitária, parecendo pronta a desmoronar no primeiro toque de outro alguém. Estava corada, demonstrando ainda mais o empreendimento.

— Louis, venha, eles vão abrir os portões do museu — Um menino rechonchudo com cachos de anjo apareceu trotando, em direção à menina loira, e pingando suor sobre as grandes bolas negras que havia aos lados de seu grande nariz de porco. Desmoronou-se no chão enquanto pisava em seu cadarço desamarrado, levantando-se atordoado com o baque que tremera o ônibus chamando atenção de todos ao redor e voltando-se para Louis os amarrar sobre a cadeira do ônibus — Arg... Cadarço cretino.
— Você tem que se acalmar, Jack. Não iremos perder nada, o teatro atrás só abrirá mais tarde.
— Não é isso, quero ver as pinturas e os textos trancados entre as pilastras de vidro. — Arfou. — E você sabe, preciso saber onde minhas obras ficarão um dia — Louis soltou uma risada abafada — Não ria, eu lutarei por isso.
Jack saiu correndo em direção à grande porta de madeira que se abria, caindo novamente sobre o tapete vinho tinto. Atrapalhado. Louis ainda possuía seu andar calmo e encarava o chão, rindo um pouco do jeito que seu amigo estava desengonçado e animado com aquele passeio. Ela gostava de vê-lo sorrir. Seus cabelos faziam cachos nas pontas com a brisa fina que batia sobre sua face, enquanto o menino a gritava e acenava insistentes vezes com o intuito dela vê-lo entrando ao museu.
Adentrando o mesmo ela abriu um belo sorriso, enquanto observava o teto e as paredes do local decoradas com pinturas – que mais se pareciam rupestres. Uma música erudita ocidental invadia, suavemente, os ouvidos de Louis, fazendo-a flutuar sobre suas sapatilhas azuladas que realçavam a cor de seus olhos cor de mar – um belo par para os de Jack. Suas mãos foram agarradas e puxadas para outra sessão enquanto seus olhos fechados demonstravam a satisfação do cheiro de ervas que invadia o local.

— É aqui que ela vai ficar! — Seus pés saltaram do chão ao ver Jack pegando uma cola e seu texto com letras garranchadas e ilegíveis.
— O que está fazendo, Jack?
— Estou deixando minha marca neste museu, eu te disse que ele iria ficar aqui. — Respondeu enquanto já o colava, em cima de outro que provavelmente seria de Camões, sobre a pilastra de vidro.
— Você não pode fazer isso. — Louis soltou um breve grito agudo que fez com que Jack tapasse os ouvidos.
— Cuidado com seus gritos. — Bufou. — E por que não posso?
A música cessara e o museu antes clássico tornou-se um inferno para Louis. O teatro falhara, mesmo com a peça na qual ela sempre gostou da época do Neoclassicismo, e o museu que valorizava as antiguidades clássicas não bastava. Seu amigo soluçava e seus sonhos foram jogados no lixo por uma ambição repentina. Ela não queria estar ali. O clássico se tornou vital e as artes que sempre quis conhecer só iluminavam o grande museu artístico, que renascia cada obra dos grandes fiéis do classicismo. Sabia ela o significado de tudo antes de questionar Jack?
Uma última estrela brilhou no céu violeta.
Não, ela não sabia de nada. Não sabia como era ver novamente um sorriso vindo de Jack, mesmo que ele estivesse certo. Não via emoção em seu olhar e não viu naquele momento que mesmo que ele estivesse fazendo uma coisa ilegal, não poderia questioná-lo por velhas artes clássicas. Ele era seu amigo, aquele que possuía o mais lindo sorriso e retirava todos os sentidos de Louis. Talvez aquele fosse o único, o mais precioso de todos os diamantes, quem sabe.
Incognição.

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