domingo, 20 de maio de 2012

Apagou-se.

O céu estava negro. Sem estrelas, sem esperanças.
Seus pequenos olhos de amêndoas examinavam cada parte do pequeno local que habitava naquele instante. As órbitas opacas demonstravam a falta do brilho que antes à possuía e as pálpebras fechavam sem pausa, deixando com que respingos de lágrimas salpicassem por sua face – o sabor salgado molhava seus lábios presos em uma careta tristonha. O caminhar em direção à mais alta lápide causava bolhas em seus pés descalços.
Louis saltitava por sobre os pedregulhos do parque enquanto a triste mensagem era solta de seus lábios entre gargalhadas.— Tenho um mês, no máximo, Lolita. Espero que cuide do Ugh-Ugh enquanto eu estiver fora.— Você ficará fora por quanto tempo? — Ela fingia ignorar as primeiras palavras.— Muito tempo, Loli. — Um sorriso esticou-se por sua face e Lolita encarou os lindos olhos cor-de-mar da amiga.— Piorou? — Seus olhos enchiam-se de lágrimas.— Bastante. — Gotas pingavam calmamente sobre a face celestial da menina albina e seus olhos não brilhavam nas luzes. Louis enxugou as lágrimas que escorriam pelo rosto da amiga e completou: — Não chore, pois a estrela brilhará e te guiará. Não chore por mim, chore por eles. Uma doença pode ser fatal, mas as palavras que escrevo nunca se apagam.
Disse entregando-lhe um rolo de papel com a letra rabiscada de Louis.— Não abra hoje. — Louis completou enquanto a amiga já abria um pedaço e o fechou de imediato — Me prometa, Loli.
— Prometo.— E prometa que não chorará.Lolita hesitou, era impossível se controlar. Ainda mais tratando-se desse assunto. Ela perderia sua amiga em um mês!— Prometa! Por favor Loli. — Pela primeira vez Lolita viu lágrimas saltarem dos olhos de Louis.— Sim, eu prometo. Porém, me prometa que sempre estará comigo, que o último brilho estará no seu coração e depois diga-me quando poderei partir.— Coração? Coração estúpido o meu que insiste em parar três segundos por dia e pela última vez baterá.
O brilho voltou e as lágrimas secaram-se com a brisa suave que balançava seus cachos dourados, de linho, trançados por ouro amarelo. Um sorriso tomou conta do ambiente e as pessoas ao seu redor à encararam com desprezo. Não a entenderam. Ela ergueu os braços, chamando as atenções, e suas palavras soavam suaves depois de tanto tempo travadas:

— Não sinto mais a dor, ela está profunda em um órgão que todos insistem ser chamado de coração. Que pulsa pela minha vida, destrói o ódio e planta o amor alheio. Eu amava Louis, ela era a melhor das amigas que alguém já possuiu no mundo e irá possuir. Ela está no meu corpo, no meu pensamento, não neste estúpido coração medíocre. — Desceu suas mãos ao corpo e apertou o órgão que pronunciava e continuou, erguendo sua voz — Tudo eu guardo em meus pensamentos e eu viverei até que a última estrela brilhe no céu, até que o último prato de feijão seja entregue aos necessitados... Até que o último brilho dos olhos de Louis se apague em meio a escuridão de uma ceia sem graça. Ela não gostaria da primeira lágrima que derramei e sempre me lembrarei de suas pequenas palavras alegres no seu último momento comigo. “Não chore, pois a estrela brilhará e te guiará. Não chore por mim, chore por eles. Uma doença pode ser fatal, mas as palavras que escrevo nunca se apagam”. Eu a amo como a melhor amiga que já possuí, a única que terei em seus momentos.
Depois disso não se viu mais nada. Não se viu o céu, não se viu o mar; não se viu a lua que se escondia no negro céu (com seu reflexo ao mar), não se viu as estrelas-do-mar; não se viu os cantos dos pássaros nas manhãs aquecidas, não se viu o “glup-glup” dos peixes que borbulhavam nos lagos.
A última lágrima caiu e ela virou as costas. Ignorando o mundo, seguindo o único brilho que emergia no céu – o brilho que só ela via, o sorriso de sua eterna tagarela.
Incognição.