Todos
estavam enfileirados sobre o tapete felpudo que ligava a escada até a
extremidade mais curta da grande porta do museu. Viam-se diferentes expressões
em cada face dos alunos do colégio central: entediadas, animadas e neutras. Os
professores contavam cada cabeça, como se fossem um grande número de gado
precioso. Apenas uma pessoa de aparência meiga, delicada, destacava-se entre
todas elas; a menina com um olhar tímido e encolhida ao canto do ônibus – sendo
a última à deixar o ônibus. Solitária, parecendo pronta a desmoronar no
primeiro toque de outro alguém. Estava corada, demonstrando ainda mais o
empreendimento.
—
Louis, venha, eles vão abrir os portões do museu — Um menino rechonchudo com
cachos de anjo apareceu trotando, em direção à menina loira, e pingando suor
sobre as grandes bolas negras que havia aos lados de seu grande nariz de porco.
Desmoronou-se no chão enquanto pisava em seu cadarço desamarrado, levantando-se
atordoado com o baque que tremera o ônibus chamando atenção de todos ao redor e
voltando-se para Louis os amarrar sobre a cadeira do ônibus — Arg... Cadarço
cretino.
—
Você tem que se acalmar, Jack. Não iremos perder nada, o teatro atrás só abrirá
mais tarde.
— Não
é isso, quero ver as pinturas e os textos trancados entre as pilastras de
vidro. — Arfou. — E você sabe, preciso saber onde minhas obras ficarão um dia —
Louis soltou uma risada abafada — Não ria, eu lutarei por isso.
Jack
saiu correndo em direção à grande porta de madeira que se abria, caindo
novamente sobre o tapete vinho tinto. Atrapalhado. Louis ainda possuía seu
andar calmo e encarava o chão, rindo um pouco do jeito que seu amigo estava
desengonçado e animado com aquele passeio. Ela gostava de vê-lo sorrir. Seus
cabelos faziam cachos nas pontas com a brisa fina que batia sobre sua face,
enquanto o menino a gritava e acenava insistentes vezes com o intuito dela
vê-lo entrando ao museu.
Adentrando
o mesmo ela abriu um belo sorriso, enquanto observava o teto e as paredes do
local decoradas com pinturas – que mais se pareciam rupestres. Uma música
erudita ocidental invadia, suavemente, os ouvidos de Louis, fazendo-a flutuar
sobre suas sapatilhas azuladas que realçavam a cor de seus olhos cor de mar –
um belo par para os de Jack. Suas mãos foram agarradas e puxadas para outra
sessão enquanto seus olhos fechados demonstravam a satisfação do cheiro de
ervas que invadia o local.
— É
aqui que ela vai ficar! — Seus pés saltaram do chão ao ver Jack pegando uma
cola e seu texto com letras garranchadas e ilegíveis.
— O
que está fazendo, Jack?
—
Estou deixando minha marca neste museu, eu te disse que ele iria ficar aqui. —
Respondeu enquanto já o colava, em cima de outro que provavelmente seria de
Camões, sobre a pilastra de vidro.
—
Você não pode fazer isso. — Louis soltou um breve grito agudo que fez com que
Jack tapasse os ouvidos.
—
Cuidado com seus gritos. — Bufou. — E por que não posso?
A
música cessara e o museu antes clássico tornou-se um inferno para Louis. O
teatro falhara, mesmo com a peça na qual ela sempre gostou da época do
Neoclassicismo, e o museu que valorizava as antiguidades clássicas não bastava.
Seu amigo soluçava e seus sonhos foram jogados no lixo por uma ambição
repentina. Ela não queria estar ali. O clássico se tornou vital e as artes que
sempre quis conhecer só iluminavam o grande museu artístico, que renascia cada
obra dos grandes fiéis do classicismo. Sabia ela o significado de tudo antes de
questionar Jack?
Uma
última estrela brilhou no céu violeta.
Não,
ela não sabia de nada. Não sabia como era ver novamente um sorriso vindo de
Jack, mesmo que ele estivesse certo. Não via emoção em seu olhar e não viu
naquele momento que mesmo que ele estivesse fazendo uma coisa ilegal, não
poderia questioná-lo por velhas artes clássicas. Ele era seu amigo, aquele que
possuía o mais lindo sorriso e retirava todos os sentidos de Louis. Talvez
aquele fosse o único, o mais precioso de todos os diamantes, quem sabe.
— Incognição.