As armas chocaram-se ao chão e o coração de John estava em
suas mãos.
A história nunca mudará.
O ventre postiço de um homem continuaria postiço, até que
provassem ao contrário ou o preconceito cessasse. Seria impossível que a vida
pudesse prevalecer diante de tanto sofrimento exercido pela comunidade, a
aflição de não poder mudar o mundo ou de não poder ser igual a todos ao seu
redor.
— S-Stefan... — O homem de nome pronunciado desabou sobre
o corpo do que o chamava e ele pode ver que o mesmo o ouvia. — Se você
realmente me ama, não chore. Lembre-se de nossas noites vazias no qual apenas
nossas mãos estavam unidas nesse meio de escuridão; dos momentos no qual rimos
e choramos juntos; daqueles em que eu pude me lambuzar de sua felicidade e
gargalhar por suas palhaçadas. Lembre-se desse sorriso envergonhado que te
fazia corar. — Apontou para o sorriso fraco que mostrava um bom pedaço de dente
sugado pelo sangue e pode-se ouvir os sussurros baixos e apreensivos de seu
acompanhante com poucos ferimentos. — Ainda pode me ouvir? Stefan? — Era tão
bom ouvir seu nome saindo dos lábios, antes belos e carnudos, daquele ser
intacto e em contato com o chão úmido. O amor o preenchia de tal forma que não
conseguia parar de chorar. Os olhos de John levantaram um pouco, com
dificuldade, até encontrar os de Stefan e observar que ele ainda ouvia. —
Diga-me que me ama e poderei partir em paz. Diga que não estarei sozinho e eu
direi o mesmo para você. Diga o que eu posso ouvir. Diga o que é preciso sentir
quando se ama e é diferente. Diga que você me teve com o orgulho e eu te direi
que seus beijos calorosos, seus abraços acolhedores e suas noites ao meu lado
foram muito mais que o orgulho de te ter comigo...
John não conseguiu mais falar, suas palavras soavam mudas
ao ouvido de Stefan.
— Eu te amo, John. Minha vida está incompleta mesmo quando
te vejo partindo. Orarei e pedirei aos céus para servirem-te uma mesa de
café-da-manhã que possa lhe satisfazer.— Antes que John pudesse pronunciar uma
se quer palavra, Stefan colocou um dedo sobre os lábios do homem, pedindo o
descanso da voz do mesmo. — Com passas. Prometo-te e afirmo tudo o que me pediu
e perguntou. Afirmo muito mais e acredito que sem você minha vida não será
nada. Nada. Um vazio completo e sem o amor. —Pegou a mão direita de John e
juntou-a a dele, elevando-as ao coração. — Sente meus coração batendo fraco e
forte ao mesmo tempo? — John assentiu — O fraco demonstra a parte de mim que
morre hoje, aquela na qual os seus sentimentos estavam nele e o fazia explodir.
Quando partir, essa parte partirá ao meio e será apenas um órgão esquisito e
incompleto. A outra parte que ainda bate é aquela onde ainda está a esperança
de te ter ao meu lado, em qualquer circunstância. Essa nunca parará.
John deu um sorriso de lado, frágil e apetitoso. Stefan
ligou seus lábios ao do parceiro que partia, dando um selo cauteloso e de
fechamento. Deixando sua saliva guardada em alguma parte do ser gélido e,
agora, sem vida.
— Você será ardente que aparecerá em minha janela em todo
amanhecer, o vento frio que baterá em minha face e a lua cheia que brilhará
todos os dias em meu céu estrelado. E quando eu não ver a chuva ou a lua, verei
que você é apenas a estrela mais brilhante do céu. Aquela que nunca me
abandona. Delicada e pequena, mas a única que sempre resta no céu de cor
arco-íris.
Stefan sorriu e uma lágrima pode ser solta de seus olhos
grandes e cor de amêndoa.
“Saiba, meu filho, que as últimas lágrimas nunca
saram. Chorarás em todos os dias, pois é assim que John estará contigo. Entre
as folhas que renovam-se no outono, o orvalho imposto no inverno, a chuva fina da primavera
e o suor pleno de um dia de verão.” — Incognição.