As lágrimas já conhecem todo o trajeto que você alcançou em minha face e as coisas ao meu redor tendem a te ter por perto e imaginar cada sorriso bobo que você dava para mim nas horas mais difíceis ou então das palavras que você soltava quando estava bravo com o que fazia.
Olho as suas fotos e lembro de cada momento, minhas memórias de criança voltaram à tona.
Neste momento desejava não brigar com você e queria que as últimas palavras que lembro de você não sejam só as brigas, quero que eu enxergue as palavras que usou enquanto pensava em mim, enquanto lutava com a morte. Em toda parte que ando sinto seu cheiro – aquele aroma que eu sempre amei e dizia que queria para mim, que dava vontade de morder você por isso. Seus abraços fortes eu ainda consigo sentir, tenho a certeza de que seu coração ainda bate ao meu lado, em alma, mas bate em sintonia com o meu.
Tenho a certeza que você está chorando por nós e quer tanto falar que está tudo bem, que nenhuma lágrima deveria ser solta por minha face. Porém, não dá. Sinto minhas pernas frágeis e minha voz trêmula.
Eu não queria estar assim. Queria poder sorrir e não ter teimado o quão vivo você ainda está, mas já é tarde, a terra te arrastou como uma semente de girassol e, por enquanto, eu sou o sol que te fortalece, mas logo, você será o sol e eu o girassol frágil e que arrepende-se muito de não ter dito o quanto te amava antes de partir, já que sei que você disse, ou pensou, isso antes de tudo.
Sei o quanto mudou para me fazer feliz e eu não pude mudar nada – só piorei. Sinto-me uma idiota orgulhosa.
Somos tão iguais que a saudade bate e fica. Olho meu reflexo no espelho e te vejo ali – tendendo à sentir meus olhos lacrimejarem e as silhuetas embaçadas ao meu redor. Sinto suas palavras grossas e sinceras, seu espírito de coragem em salvar quem salvou.
Transformou sua vida em pó para salvar outra vida – você deu seu ar pelos outros e salvou um bebê. Você é o meu herói. Deixou o orgulho em mim e a saudade. Só não me conforto em saber que não está mais comigo, por que os dois não viveram? Eu sentia que você era imortal, o meu eterno super-homem invensível – de pulsos de ferro. Sinto a dor que sentiu enquanto quilos de tijolos jogaram-se contra você e imagino o quanto você pensou em mim antes de partir. O quanto pediu por nossas vidas. Teimando em que sejamos felizes. Isso é quase impossível, mas eu farei de tudo pelo meu eterno campeão. Juro que tentarei ser o mais forte possível, mas não prometo que não desabarei em uma data em que você era o especial. Em meus natais olharei o céu e lembrarei que nós contávamos as estrelas; meus dias dos pais e seu aniversário serão horríveis, estarei encolhida em minha cama e as lágrimas com certeza irão rolar sem tempo de término.
Tentarei não chorar mais de cem mil litros por dia (você, mais do que ninguém, sabe o quão dramática posso ser), pode brigar comigo se eu passar – Isso me reconfortará tanto.
Seus choros agora se tornarão mudos já que está ao lado de quem chorava, mas tenho a certeza de que estarão fortes ao pé de meu ouvido. Sinto o colo de sua avó te confortando e as lágrimas unidas.
Tenho a certeza de que você ouve meus pedidos e está sorrindo por ter conseguido.
A sensação é tão horrível, quero tanto te ver e queria que minha esperança de te ter vivo, depois de encontrado, tivesse dado certo. Eu prometi que se tivesse vivo eu te agarraria e nunca mais te soltaria.
Nunca mais. Apareça e torne meu sonho realidade, por mais que seja só em alma.
Aceito a sua visita todas as noites em meu quarto.
Olhe por mim, olhe por todos. Seja meu anjo da guarda, pai. Eu lhe imploro.
Diga-me: Por que as últimas lágrimas demoram tanto para sarar, papai? Por quê? Cure minhas lágrimas? Apareça para mim todas as noites e me faça dormir com suas mãos de anjo salvador?
Eu o amo e a dor nunca se apagará.
Erga suas asas e voe como um passarinho. Porém, peço que olhe por mim e mostre-me como está, acredito que isso não seja tão egoísta.
— Incognição. (Quase dois anos atrás)