quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

— E você, trabalha com o que?
— Sou escritora.
— Ah, isso todo mundo faz. Também escrevo, muitos documentos da empresa.
— Não, você não compreendeu.
— Sorriu ela, olhando para baixo. E ele encucado com a situação, respondeu-lhe:
— Como não? Me disse que é escritora, e respondi que eu também escrevo.
— Você escreve, eu sou escritora.
— Você está brincando comigo? Escrever e ser escritor é a mesma coisa.
— Meu caro, repare bem como são coisas distintas. Eu sou escritora, escritora no livro da vida, escritora das entrelinhas, escritora dos sentimentos renegados, dos amores recíprocos, das hipocrisias, das flores murchas, das cores claras. Escritora.
Ele fez uma cara de deboche. Mas, ela não exitou e continuou:
— Você, um homem que escreve. Todos nós podemos ser alfabetizados e ter o dom de escrever – Ela sorriu. – Mas, poucos e sábios os que buscam, na alma, palavras. Que transformam sentimentos, paisagens, pessoas, vidas. Em textos. Que não exitam em calar o mundo com suas palavras. Esses, podemos considerar escritores natos. O fato não é escrever, é se entregar as palavras.
Ele olhou para ela, levantou da cadeira e partiu. Sabendo que tudo que ela disse era sensato, mas, não quis assumir o erro.
Sophia Germano.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Hoje como de costume eu acordei as 7h da manha em ponto, levantei, tomei café e decidi sair para caminhar. No meio do caminho havia uma livraria e na vitrine tinha um cartaz escrito “A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar” e por alguns instantes eu fechei os olhos e me imaginei bem longe dali, lembrei do meu passado e involuntariamente eu lembrei de você, assim que a sua imagem veio a minha cabeça abri os olhos imediatamente, não podia me dar ao luxo de ficar pensando em você logo no começo do meu dia. Continuei a caminhar, mas aquela bendita frase não saia de minha cabeça, nunca nada que eu havia lido tinha feito tanto sentido assim, pois de 24h do dia 25 era feita de saudade.
No caminho de volta passei novamente em frente a livraria, só que desta vez eu não parei para olhar a vitrine, pois sabia que ler novamente aquela frase seria como tomar um tapa da verdade, porem eu já havia lido uma vez e era o suficiente para me fazer pensar em você, pensar em nós.
Como eu disse, aquela frase foi como levar um tapa da verdade, quem eu estava querendo enganar? Eu sentia saudade, eu queria voltar no tempo, reviver meu passado, eu ainda te amava, bom, acho que essa é a palavra certa, ”amor”, pois não sentimos saudade daquilo que não amamos certo? Eu mesma nunca senti saudade de uma dor de dente, por mais que o amor doesse mais do que uma simples carie.
Olha a que ponto eu cheguei, estou comparando o amor com uma carie? E tudo isso por conta de uma frase em um cartaz na vitrine de uma livraria? Acho que ficar tanto tempo sozinha não esta me fazendo bem, ficar sozinha me trás lembranças, e lembranças me traz saudade, e a saudade, bom ela me traz você, não fisicamente, mas na minha maldita cabeça.
Depois de tanto pensar, fazer comparações malucas eu decidi voltar para cama, afinal eu não deveria ter saído de lá hoje. Peguei um livro e fui me deitar, como sempre eu li uma pagina e logo peguei no sono. Sonhei com você, acho que foi culpa de todo esse papo de saudade, ou talvez seja só a minha alma dizendo para onde ela quer voltar.
Fernanda Duarte.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Arrepio.

‎Morri em Santa Maria hoje. Quem não morreu? Morri na Rua dos Andradas, 1925. Numa ladeira encrespada de fumaça.
A fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul. Nunca uma nuvem foi tão nefasta.
Nem as tempestades mais mórbidas e elétricas desejam sua companhia. Seguirá sozinha, avulsa, página arrancada de um mapa.
A fumaça corrompeu o céu para sempre. O azul é cinza, anoitecemos em 27 de janeiro de 2013.
As chamas se acalmaram às 5h30, mas a morte nunca mais será controlada.
Morri porque tenho uma filha adolescente que demora a voltar para casa.
Morri porque já entrei em uma boate pensando como sairia dali em caso de incêndio.
Morri porque prefiro ficar perto do palco para ouvir melhor a banda.
Morri porque já confundi a porta de banheiro com a de emergência.
Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa.
Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram.
Morri sufocado de excesso de morte; como acordar de novo?
O prédio não aterrissou da manhã, como um avião desgovernado na pista.
A saída era uma só e o medo vinha de todos os lados.
Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço. Não vão se lembrar de nada. Ou entender como se distanciaram de repente do futuro.
Mais de duzentos e cinquenta jovens sem o último beijo da mãe, do pai, dos irmãos.
Os telefones ainda tocam no peito das vítimas estendidas no Ginásio Municipal.
As famílias ainda procuram suas crianças. As crianças universitárias estão eternamente no silencioso.
Ninguém tem coragem de atender e avisar o que aconteceu.
As palavras perderam o sentido.
Fabrício Carpinejar

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

"É fácil amar o outro na mesa de bar, quando o papo é leve, o riso é farto, e o chopp é gelado. É fácil amar o outro nas férias de verão, no churrasco de domingo, nas festas agendadas no calendário, quando se vê de vez em quando. Difícil é amar quando o outro desaba. Quando não acredita em mais nada. E entende tudo errado. E paralisa. E perde o charme. O prazo. A identidade. A coerência. O rebolado. Nessas horas é que se vê o verdadeiro amor, aquele que é companheiro, que quer o bem acima de qualquer coisa. E é esse o amor que dura pra sempre. Na verdade esse é o único que pode ser chamado de amor."

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Aí você ouve aquela música que costumava ser apenas uma música. E repara que a letra que sempre foi a mesma te faz lembrar de coisas que já não são como costumavam ser. E pensa em mudar de música, mas quer provar para si mesmo que é forte o suficiente para conviver com as lembranças. E ouve... E canta junto... E volta a música... E pensa em mandar um trecho dela por SMS, ou postar uma indireta musical no facebook, mas não faz nada, apenas ouve. E aceita o fato de que aquela música que costumava ser apenas uma música, agora é também um pedaço musicalizado do seu passado. E se pergunta se haveria alguém em algum lugar, alguma noite ou em algum desses momentos de descuido que se põem o celular para tocar no aleatório ouvindo a mesma música. E volta a música mais uma vez, para imaginar as possíveis reações da pessoa ouvindo a mesma música. E ri de si mesmo, e disfarça como se tivesse alguém por perto, mas não tem. E justamente por isso não se inibe e coloca pra tocar mais uma vez a música. Aquela, que costumava ser apenas uma música...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Dois anos.

Queria que o passado ainda estivesse preso em meu futuro; queria poder segurar a farda que eu carreguei desde o início, mas eu não queria usá-la; queria poder dizer que tudo fora apenas um sonho acordado; queria dizer que os gritos e choros foram apenas um engano sonoro; queria que a terra caindo fosse apenas uma miragem. Queria poder dizer adeus àquele momento e continuar. Normalmente. Sorrindo e imaginando como seria o dia seguinte, sem ter o medo preso em meu coração. Queria flutuar, assim como as borboletas, antigamente, ainda faziam ao meu redor.
O sorriso estampado nas faces absortas e as lágrimas só servindo de fuga para a tristeza, apenas demonstrando a felicidade exposta sobre os corações arrebatadores.
Nesse momento, talvez o monótono fosse necessário. O que acha de retornarmos ao passado e trazer o clichê de volta? Será que tudo voltaria ao normal? Eu espero.
Brancos, negros, pobres, ricos, diferentes, iguais e felizes - todos iguais. Honestidade sem máscaras e tudo trago ao redor; tudo muito dividido.
Agora eu gostaria apenas de ver os olhos daquela criança brilhando, seus pensamentos imaginários trazendo os "porquês" e seus dentes-de-leite ainda à amostra. Aquelas lágrimas não podiam permanecer em sua face de boneco, poderíamos rir juntos.
Não quero seguir o diferente, apenas necessito do passado de volta. Preciso resgatar a felicidade e dispensar as horas extras feitas pela morte e pela tristeza. Seguir em frente e não olhar os estragos. Denunciar o errado e seguir o certo. Poder ajudar quem não pode fugir, todos somos vítimas, mas por dentro apenas alguns podem sentir a dor que posso possuir, junto com outras pessoas. Será mesmo que aquele ser invisível mostra seu sorriso e está bem? Quero tudo como era antes, eliminar a desgraça e costurar meu coração de volta ao local de onde ele partiu-se. Parece que ele não quer retornar.
Incognição.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Meu futuro anjo da guarda.

As lágrimas já conhecem todo o trajeto que você alcançou em minha face e as coisas ao meu redor tendem a te ter por perto e imaginar cada sorriso bobo que você dava para mim nas horas mais difíceis ou então das palavras que você soltava quando estava bravo com o que fazia.
Olho as suas fotos e lembro de cada momento, minhas memórias de criança voltaram à tona.
Neste momento desejava não brigar com você e queria que as últimas palavras que lembro de você não sejam só as brigas, quero que eu enxergue as palavras que usou enquanto pensava em mim, enquanto lutava com a morte. Em toda parte que ando sinto seu cheiro – aquele aroma que eu sempre amei e dizia que queria para mim, que dava vontade de morder você por isso. Seus abraços fortes eu ainda consigo sentir, tenho a certeza de que seu coração ainda bate ao meu lado, em alma, mas bate em sintonia com o meu.
Tenho a certeza que você está chorando por nós e quer tanto falar que está tudo bem, que nenhuma lágrima deveria ser solta por minha face. Porém, não dá. Sinto minhas pernas frágeis e minha voz trêmula.
Eu não queria estar assim. Queria poder sorrir e não ter teimado o quão vivo você ainda está, mas já é tarde, a terra te arrastou como uma semente de girassol e, por enquanto, eu sou o sol que te fortalece, mas logo, você será o sol e eu o girassol frágil e que arrepende-se muito de não ter dito o quanto te amava antes de partir, já que sei que você disse, ou pensou, isso antes de tudo.
Sei o quanto mudou para me fazer feliz e eu não pude mudar nada – só piorei. Sinto-me uma idiota orgulhosa.
Somos tão iguais que a saudade bate e fica. Olho meu reflexo no espelho e te vejo ali – tendendo à sentir meus olhos lacrimejarem e as silhuetas embaçadas ao meu redor. Sinto suas palavras grossas e sinceras, seu espírito de coragem em salvar quem salvou.
Transformou sua vida em pó para salvar outra vida – você deu seu ar pelos outros e salvou um bebê. Você é o meu herói. Deixou o orgulho em mim e a saudade. Só não me conforto em saber que não está mais comigo, por que os dois não viveram? Eu sentia que você era imortal, o meu eterno super-homem invensível – de pulsos de ferro. Sinto a dor que sentiu enquanto quilos de tijolos jogaram-se contra você e imagino o quanto você pensou em mim antes de partir. O quanto pediu por nossas vidas. Teimando em que sejamos felizes. Isso é quase impossível, mas eu farei de tudo pelo meu eterno campeão. Juro que tentarei ser o mais forte possível, mas não prometo que não desabarei em uma data em que você era o especial. Em meus natais olharei o céu e lembrarei que nós contávamos as estrelas; meus dias dos pais e seu aniversário serão horríveis, estarei encolhida em minha cama e as lágrimas com certeza irão rolar sem tempo de término.
Tentarei não chorar mais de cem mil litros por dia (você, mais do que ninguém, sabe o quão dramática posso ser), pode brigar comigo se eu passar – Isso me reconfortará tanto.
Seus choros agora se tornarão mudos já que está ao lado de quem chorava, mas tenho a certeza de que estarão fortes ao pé de meu ouvido. Sinto o colo de sua avó te confortando e as lágrimas unidas.
Tenho a certeza de que você ouve meus pedidos e está sorrindo por ter conseguido.
A sensação é tão horrível, quero tanto te ver e queria que minha esperança de te ter vivo, depois de encontrado, tivesse dado certo. Eu prometi que se tivesse vivo eu te agarraria e nunca mais te soltaria. Nunca mais. Apareça e torne meu sonho realidade, por mais que seja só em alma.
Aceito a sua visita todas as noites em meu quarto.
Olhe por mim, olhe por todos. Seja meu anjo da guarda, pai. Eu lhe imploro.
Diga-me: Por que as últimas lágrimas demoram tanto para sarar, papai? Por quê? Cure minhas lágrimas? Apareça para mim todas as noites e me faça dormir com suas mãos de anjo salvador?
Eu o amo e a dor nunca se apagará.
Erga suas asas e voe como um passarinho. Porém, peço que olhe por mim e mostre-me como está, acredito que isso não seja tão egoísta.
Incognição. (Quase dois anos atrás)